Amigo fiel é escudo, guardião de nossa alma.
O Autor Sagrado eleva o amigo a um nível
altíssimo quando lhe atribui o epíteto de tesouro. A Palavra de Deus
diz: “Amigo fiel é poderosa proteção; que o encontrou, encontrou um
tesouro” (Eclo 6,14). Interessante que o termo “tesouro” deriva do latim
thesaurus, que significa também “armazenamento” ou
“repositório”. Assim sendo, amigo de verdade é aquele que serve de
repositório, lugar onde armazenamos nossa confiança, nossos sentimentos e
afetos, até mesmo nossa própria vida. Não à toa, a Bíblia assemelha a
amizade a um tesouro, pois não é fácil encontrar uma riqueza; do mesmo
modo, um amigo, embora, vivamos na era da comunicação.
Nunca
na história se ouviu notícias de tantos relacionamentos oriundos dos
meios de comunicação, proporcionados pela técnica atual. Novas amizades
são feitas a todo instante no mundo inteiro através das redes sociais,
chats e sites de relacionamento. Apesar disso, a solidão é crescente no
meio urbano.
De um ponto de vista ocorreu uma evolução célere, neste sentido, com a
globalização. Entretanto, os laços de amizades sofrem cada vez mais em
qualidade. O Escritor Sagrado não nos fala desse tipo de amizade,
todavia, não podemos descartá-la, pois já é uma realidade vivenciada
pelas novas gerações e, talvez no amanhã, venha a ser uma regra.
Nossas amizades devem ser bem
selecionadas. Bijuterias podem até enganar, mas um dia perdem seu brilho
efêmero, diferente dos tesouros e das joias raras que nunca perdem sua
beleza. Com efeito, os tesouros nos enriquecem, então, isso serve como
um excelente termômetro para medir nossos relacionamentos. Será que essa
amizade está nos enriquecendo, fazendo de nós pessoas melhores e
enobrecendo nossa vida?
Caso o amigo seja fiel, entenderá o que, já na antiguidade clássica, Aristóteles
dizia: “entre a amizade e a verdade, eu prefiro a verdade”. Intuímos,
pois, que a verdade liberta, e o amigo sincero sabe disso. Ele
fala coisas desagradáveis a nosso ver, em nossa frente, enquanto o
inimigo fala-a por trás. Contudo, seu ombro será um refúgio, suas
palavras acalento para alma e sua presença um bálsamo. Porém, quando
oportuno, a correção virá, nos corrigirá baseado na confiança depositada
em sua pessoa. Daí provém nossa proteção neste escudo protetor da
amizade que vela por nossa alma.
Este guardião possui o dom de nos
acolher da maneira que somos; ele não espera que sejamos perfeitos, mas
tão somente amigo. Conhece nossas fraquezas e limitações, mesmo assim
abriga-nos sem preconceitos, ou seja, com o amigo podemos pensar em voz
alta e continuar a tê-lo. O tempo lapidará o ouro da amizade e
somente ele poderá dizer se nossa amizade é um tesouro enriquecedor ou
uma bijuteria ornada com aparência bela; porém, imbuída de uma falsidade
que nos deixa vulneráveis.
Rodrigo Stankevicz
Fonte: Canção Nova
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