O
ano de 2013 foi dos Franciscos: do Papa e das crianças que receberam o
nome em homenagem a ele. Somente no Estado de São Paulo, 30% das
crianças registradas de março a dezembro receberam esse nome. Francesco Sávio Vanderlei de Oliveira
tem 10 meses e recebeu o primeiro nome em homenagem ao Pontífice
argentino. A ideia foi do pai do garoto, Frederico Henrique de Oliveira,
que estava na Praça São Pedro no momento do Habemus Papam. A esposa, Edilma Oliveira, estava grávida de 8 meses.
“Quando ele foi eleito, e apareceu aos
milhares de fiéis e falou com muita simplicidade, principalmente quando
pediu que o povo rezasse por ele, aquilo foi uma experiência muito
forte e fui às lágrimas ali na Praça de São Pedro e me perguntava: que
homem é esse?”, conta Frederico.
Já para o Papa, a escolha foi para
homenagear o Santo de Assis e a decisão precisou ser quase imediata. O
Cardeal Bergoglio teve apenas alguns minutos após o fim da contagem dos
votos dos cardeais para escolher seu nome de pontificado.
Ele mesmo conta como escolheu o nome ao
receber uma “dica” de um amigo do Colégio Cardinalício. O cardeal
brasileiro, Dom Cláudio Hummes, que estava sentado ao lado de Bergoglio
durante o Conclave, ao perceber que as votações já haviam atingido os
2/3 necessários para eleger o Papa, cumprimentou-o.
“Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me:
‘Não te esqueças dos pobres!’. E aquela palavra gravou-se-me na cabeça:
os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em
Francisco de Assis. Em seguida pensei nas guerras, enquanto continuava o
escrutínio até contar todos os votos. E Francisco é o homem da paz. E
assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis”, contou o Papa
na primeira audiência que teve com os jornalistas.
O Pontífice brinca ainda com as
sugestões recebidas dos colegas cardeais. “Mas, tu deverias chamar-te
Adriano, porque Adriano VI foi o reformador; e é preciso reformar. Outro
disse-me: ‘Não! O teu nome deveria ser Clemente’. Mas porquê?.
‘Clemente XV! Assim vingavas-te de Clemente XIV que suprimiu a Companhia
de Jesus!’. São brincadeiras”, disse Francisco.
Em programa na TV Canção Nova, Dom
Cláudio Hummes comentou o grande dom para Igreja que é o pontificado de
Francisco. Destacou que escolha do nome é um programa de vida, um
programa de Igreja. Dom Hummes falou ainda que a experiência do Cardeal
Bergoglio em Buenos Aires na Argentina foi uma preparação para o
pontificado.
Nome de pontificado
O especialista em informação religiosa,
Andrea Gagliarducci, conta que a escolha de Bergoglio tem como pano de
fundo a devoção do próprio fundador dos jesuítas, ordem à qual pertence o
Papa. Segundo a história, Inácio de Loyola tinha Francisco de Assis
como modelo de vida e até desejou imitar o santo.
“Tanto é que, no início, Inácio quis
assumir a pobreza absoluta dos franciscanos, uma ideia que mais tarde
tomou outros rumos, pois o objetivo da Companhia de Jesus era diferente
da ordem franciscana”, explica Andrea.
De acordo com o especialista, não há um
motivo específico para que até hoje não tenha sido escolhido por nenhum
pontífice o nome Francisco, uma vez que o Santo seja tão querido e
famoso em todo mundo.
“De modo geral, escolhia-se um nome com
base na devoção, porém com o tempo, os Papas começaram a escolher o nome
com base em um programa de pontificado”, explica Andrea, reafirmando a
opção do Cardeal argentino.
“Para mim, é o homem da pobreza, o homem
da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a
nossa relação com a criação não é muito boa, pois não? [Francisco] é o
homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu queria
uma Igreja pobre e para os pobres!”, conclui o Pontífice apontando de
que modo irá caminhar.
Na história da Igreja, a escolha de um
novo nome para o Papa teve início no século VI com a eleição de
Mercúrio como pontífice. O nome, por lembrar um deus pagão, não era
adequado a um Papa, surgiu então a ideia de mudar para João.
A partir daí, não como uma regra, os
Papas começaram a optar pela mudança. Os mais utilizados foram João,
Clemente e Pio. Curiosamente, o nome Pedro, do primeiro apóstolo, nunca
foi escolhido, segundo o especialista, em respeito à grandeza do primeiro
Papa.