"Hoje, não há nenhum outro líder religioso, político ou de
entretenimento que possa reunir algo próximo do tipo de resposta que
este papa inspira, fato que deixa algumas pessoas coçando a cabeça e se
perguntando: Por quê? Por que o papa importa tanto?", questiona Paul Brandeis Raushenbush,
pastor batista norte-americano e editor-executivo da editoria
de religião e espiritualidade do jornal The Huffington Post, em artigo
publicado pelo jornal The Huffington Post, 20-08-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Estima-se que 1,5 milhões de pessoas se juntem ao Papa Francisco no dia 27 de setembro para celebrar uma missa durante o Encontro Mundial das Famílias,
na Filadélfia. Este encontro maciço, além de participação do pontífice
no Festival das Famílias no dia anterior – que deverá contar com
aproximadamente 750 mil pessoas –, levou à cunhagem do termo “Popeapocalypse” [papa-apocalipse].
Universidades irão estar fechadas, peregrinos já estão cravando estacas em terremos no jardim zoológico de Filadélfia
para garantir um lugar de dormir, o sistema de transporte público está
fazendo uma espécie de loteria para a entrega de bilhetes de trem e as
mulheres à espera para dar à luz na região estão buscando se deslocar
para outras cidades – tudo em antecipação à visita do Papa Francisco.
Hoje, não há nenhum outro líder religioso, político ou de
entretenimento que possa reunir algo próximo do tipo de resposta que
este papa inspira, fato que deixa algumas pessoas coçando a cabeça e se
perguntando: Por quê? Por que o papa importa tanto?
Ele é um líder político transnacional
Como chefe da Igreja Católica de Roma, o papa ocupa uma posição que
nenhum outro líder religioso pode igualar. A maioria das grandes
religiões não tem uma estrutura hierárquica que reconheça claramente um
líder que encarna a tradição como faz o papa para o catolicismo. O papa é
o chefe de uma organização coesa, transnacional que vem existindo há
aproximadamente dois mil anos. A Igreja tem uma cadeia de comando que
vai do Vaticano até a paróquia local, sistema capaz de transmitir informações, ideologia e bens materiais em todo o mundo.
Compare isso com outras religiões que estão, em sua maioria,
fragmentadas entre muitas e diferentes seitas e que contam com inúmeros
líderes. E mesmo entre aquelas que não possuem hierarquias existentes,
tal como a Comunhão Anglicana, os números não se comparam com os cerca de 1,2 bilhão de católicos romanos.
A influência da Igreja Católica aumenta por causa do
status do Vaticano como uma cidade-Estado independente que mantém
relações diplomáticas com países de todo o mundo. Como líder do
Vaticano, quando o papa visita um país ele o faz apenas na qualidade de
líder religioso, mas também como de chefe de Estado. Isso diferencia o
papa da maioria dos demais líderes – religiosos ou políticos –, à parte
de cargos mais cerimoniais, como aquele mantido pela Rainha da
Inglaterra, que simultaneamente é chefe titular da Igreja Anglicana e da
Commonwealth,
porém exercendo pouca influência em ambas. O papa, por outro lado, é a
autoridade nítida por trás de ambos os títulos e tem condições plenas de
exercer a influência que vem com ela.
A Igreja Católica não é apenas transnacional; em
muitas partes do mundo ela é um agente influente na política interna e
na vida civil. Essas Igrejas locais são conduzidas por bispos,
arcebispos e cardeais, todos os quais são nomeados pelo papa. Isto
significa que o tipo de prioridade e interesse da Igreja Católica local é
muito influenciado pelo tipo de pessoa colocada nos postos mais altos
pelo papa.
Ele tem influência religiosa internacional
Além do poder político e diplomático, o poder de inspiração do papa
é ainda mais impressionante. Para uma grande parcela da humanidade, a
Igreja Católica tem sido, há milênios, o seu caminho para o Divino e tem
fornecido respostas para as perguntas sobre como viver uma vida moral e
significativa.
Como chefe da Igreja Católica de Roma, a autoridade do papa remonta a São Pedro,
um dos discípulos de Jesus considerado pela Igreja Católica como o
primeiro papa. Os pronunciamentos papais possuem peso, e o papa tem
grande influência sobre a forma como os católicos compreendem o que é
sagrado – por exemplo, ele desempenha o papel central no processo de
declarar que alguém é santo e de tornar santuários certos lugares. O
papa também é a mais alta representação da Igreja Católica para outras tradições de fé, seja para outras religiões, seja para outras denominações cristãs ou o mundo secular.
Não apenas os pronunciamentos e as atividades papais são transmitidos
por canais midiáticos católicos; eles também são o assunto de interesse
da mídia secular e contam com uma cobertura atenta. Quando o papa fala
sobre o Evangelho cristão, como faz às quartas-feiras e aos domingos na Praça de São Pedro, através de encíclicas
e em ambientes menos formais, ele frequentemente relaciona a mensagem
religiosa e espiritual não só com a moralidade pessoal e a salvação, mas
também com questões societais e da vida política. Isso normalmente
envolve se posicionar em debates polêmicos em países ao redor do mundo e
dentro de eventos mundiais mais amplos.
Dado o imenso poder do cargo, está claro que qualquer papa terá
importância. No entanto, quando ele é ocupado por uma figura tão
cativante como o Papa Francisco, o papa importa e muito.
Desde o momento em que o papa recém-eleito se pôs diante da multidão na Praça de São Pedro e que o seu nome escolhido – Francisco – foi anunciado, o espírito da possibilidade começou a soprar através da Igreja Católica de Roma.
O papado particular do Papa Francisco
Francisco já se tornou uma das figuras mais notáveis do século XXI. Desde o início, quando preteriu o Palácio Apostólico
a uma casa simples de hóspedes, trocou o papamóvel da Mercedes por um
Hyundai e declarou o quanto ansiava por uma Igreja pobre e para os
pobres, Francisco tem sido motivo de manchetes por suas palavras e seus atos – para alguns – surpreendentes.
Em seu primeiro ano, o novo papa observou a Quinta-feira Santa
lavando os pés de jovens encarcerados, incluindo mulheres e muçulmanos,
disse que os ateus poderiam ser redimidos, opinou que a Igreja vinha
enfatizando demais o casamento gay
e o aborto, acusou a burocracia [da própria Igreja] de sofrer de
“Alzheimer espiritual”, afirmou que os mercados financeiros mundiais
estão “tiranizando os pobres” e, claro, a sua resposta agora icônica
sobre os gays: “Quem sou eu para julgar?”.
Ele passou a usar sua plataforma para especialmente destacar a situação dos imigrantes,
os sem-teto, os pobres, a paz no Oriente Médio, a perseguição dos
cristãos e, mais recentemente, assumiu a questão moral do meio ambiente
em sua encíclica Laudato Si’.
O papa dá conteúdo para boas manchetes, e suas prioridades reverberam
dentro da política mundial e no seio das sociedades em todo o mundo.
O Papa Francisco foi creditado como tendo ajudado na intermediação da aproximação entre os EUA e Cuba, país que ele estará visitando antes de sua chegada aos Estados Unidos. Estas ações do papa ecoam as de João Paulo II,
líder influente na derrubada da Cortina de Ferro com a visita ao seu
país natal, a Polônia, em 1979, onde dois milhões de pessoas saudaram o
primeiro papa a visitar o país comunista.
Nos Estados Unidos, a frase “Quem sou eu para julgar?”
foi citada por um senador católico de Illinois que deu o voto decisivo a
favor do casamento gay em 2013, antes de a Suprema Corte fazer dele um
direito em todo o país. Por outro lado, o candidato republicano à
presidência Jeb Bush se viu obrigado a refutar a declaração de Francisco
sobre o meio ambiente e a economia. “Eu não baseio minha política
econômica nos bispos, nos cardeais, nem no papa”, disse o candidato.
Francisco será o primeiro papa a discursar ao Congresso dos Estados Unidos,
com certeza apresentando desafios aos líderes políticos, conservadores e
progressistas. Parece provável que a visita do papa e suas palavras
serão retomadas nas primárias presidenciais e nas eleições gerais. Não é
fácil apontar uma outra figura que tem sido tão direto sobre questões
tais como o ambiente, a economia e a imigração quanto o Papa Francisco.
Ele ajudou a reformar a Igreja Católica
Dentro do Vaticano, Francisco vem sendo ativo na tentativa de reformar e “limpar” a Cúria e o Banco do Vaticano,
instituição que ajuda a financiar a obra da Igreja. A eficácia que ele
mostrou neste sentido, bem como no trabalho mais urgente de reparar o
dano nas vidas dos que sofreram abuso sexual clerical, vem sendo vigiada de perto. Enquanto muitos estão preocupados com o ritmo lento das reformas, parece que, sob Francisco,
a Igreja está estabelecendo as estruturas necessárias e começando a se
mover na direção certa, com maior destaque dentro do Banco do Vaticano.
Como mencionado acima, o papa tem praticamente um poder absoluto
sobre a hierarquia da Igreja. Entre as suas responsabilidades está a de
nomear novos cardeais que acabarão por votar na escolha do próximo papa,
assim como a de nomear e substituir bispos e arcebispos que
proporcionam espaços de liderança a católicos nos países ao redor do
mundo. Francisco fez uso desse poder para aumentar a
presença e o poder do sul global via nomeação de cardeais advindos de
algumas das regiões mais pobres do mundo. Ele também embaralhou os
papéis dos principais clérigos católicos nos Estados Unidos e elevou algumas das figuras mais moderadas entre a liderança católica, bem como removeu rapidamente Dom Tebartz-van Elst (o “Bispo do Bling” ou da ostentação) na Alemanha por despesas excessivamente extravagantes.
Uma das transformações mais notáveis sob o comando do Papa Francisco ocorreu no ambiente das mídias sociais. O antecessor de Francisco chegou ao Twitter com o lamentável identificador “@Pope2YouVatican”, o qual Jon Stewart zombou durante um show ao vivo. [1] Ninguém está tirando sarro agora. Com o Papa Francisco, a conta papal no Twitter anda em alta velocidade com o @Pontifex tuitando em várias línguas (incluindo o latim!) e Francisco foi considerado o líder mais influente nestes últimos dois anos no Twitter.
No entanto, é a presença off-line do papa que mostra, realmente, o quanto ele de fato importa.
Em encontros cara a cara, ou diante de três milhões de pessoas no Rio, o espírito humilde, caloroso e pastoral de Francisco tem ressoado entre os católicos e não católicos. Num mundo como este, onde as pessoas religiosas e as não religiosas estão igualmente sedentas de um sentido de conexão, de um desejo articulação das desigualdades e de inspiração para trabalhar por um mundo mais compassivo, justo e pacífico, palavras e os atos do papa importam.
Em encontros cara a cara, ou diante de três milhões de pessoas no Rio, o espírito humilde, caloroso e pastoral de Francisco tem ressoado entre os católicos e não católicos. Num mundo como este, onde as pessoas religiosas e as não religiosas estão igualmente sedentas de um sentido de conexão, de um desejo articulação das desigualdades e de inspiração para trabalhar por um mundo mais compassivo, justo e pacífico, palavras e os atos do papa importam.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
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