O Pai das Misericórdias espera, porque sabe que um dia o filho vai voltar
Todos nós conhecemos a parábola do filho pródigo, narrada no
Evangelho de Lucas, no capítulo 15. Essa linda passagem, que nos fala
sobre a volta do filho pródigo, na verdade poderia ser chamada de a
“parábola do pai pródigo”, porque ser pródigo quer dizer esbanjador,
gastador. Muito mais do que aquele filho esbanjar a fortuna da família, o
pai “esbanjou” perdão, misericórdia e amor àquele filho que voltou para
seus braços, para o lar.
É muito mais a “parábola do pai pródigo”, porque o próprio Jesus nos
disse: “Sereis misericordiosos como vosso Pai celeste é misericordioso”.
E como aquele pai foi misericordioso! A que ponto chega sua
misericórdia para com o filho?
Esse pai que nos fala a parábola é Deus Pai para conosco. O filho
cometeu a maior – desculpe-me a expressão –, “burrada” da sua vida. Ele
prejudicou toda a família, porque, naquele tempo, uma herança não era em
dinheiro, ou seja, era em forma de divisão de terras, gados, ovelhas e
plantações. Então, para o pai poder dividir e dar ao filho que reclamou a
parte que lhe cabia, ele “estragou” toda a sua fortuna, o resultado do
trabalho de uma vida inteira. E o que faz aquele filho? Pegou tudo e foi
para uma terra longínqua, foi “torrar” os bens de seu pai numa vida
desregrada.
Quando ele começou a passar necessidades, resolve voltar para casa. O
pai o aguardava, porque seu coração dizia que, um dia, seu filho iria
voltar. Seu coração lhe dizia diariamente: “Um dia ele vai voltar”. E o pai o avistou de longe.
Na verdade, o pai percebeu o que o filho estava voltando, longe, mas
na direção de sua casa. Então, o pai tomou a iniciativa e foi em direção
ao filho; quando o encontrou, abraçou-o, cobriu-o de beijos e
devolveu-lhe toda sua dignidade. Sim, porque o filho perdeu tudo,
inclusive sua dignidade. Suas vestes estavam em estado lastimável, seu
corpo era uma miséria só. O pai o colocou numa túnica nova, devolveu seu
anel, que era o símbolo justamente da filiação que ele tinha perdido,
ou talvez vendido, e devolveu até mesmo suas sandálias. Depois, chamou
os criados para realizar uma grande festa: “Porque este meu filho estava
morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado”.
Jesus está dizendo: “É assim a misericórdia do nosso Pai”. Aparece
também, na parábola, a figura do filho mais velho que, ouvindo os sons
das músicas e das danças, quis saber o que estava acontecendo, e o servo
lhe falou da volta de seu irmão. Ele ficou com muita raiva e não quis
entrar. O pai, com toda sua misericórdia, saiu ao encontro desse filho e
percebeu que ele estava com raiva, fazendo “birra”, não queria entrar
na festa, festejar a volta do irmão. O filho mais velho disse ao pai:
“Eu o servi a vida inteira, obedeci-lhe sempre e nunca me deste nem
mesmo um cabrito para eu festejar com meus amigos”. E o pai insiste com o
filho: “Meu filho, este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava
perdido e foi reencontrado”.
Assim é a misericórdia do nosso Pai. O que Jesus fez com essa
parábola foi nos ensinar que precisamos ser misericordiosos, como o Pai
celeste é misericordioso: “Não são as pessoas com saúde que precisam de médico, mas as doentes. Não é a justos que vim chamar, mas a pecadores” (Mc 2,17).
Seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib
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