O mundo tem vários meios para abalar as emoções de multidões, mas a missão do cristão como evangelizador está no que vem depois
Muito se fala sobre a missão do músico na evangelização em razão do
potencial atrativo que a beleza da arte exerce sobre a sociedade
sofrida. Contudo, dentro de muitas igrejas a música ainda é vista mais
como forma de entretenimento e beleza do que como oportunidade de
experiência com a Pessoa de Cristo. Os shows de muitos artistas
seculares são cada vez mais atrativos e oferecem cada vez mais qualidade
técnica e artística.
E qual é mesmo a missão real da arte?
O ser humano desenvolve ao longo da vida inúmeras barreiras
emocionais para se proteger do sofrimento. Nosso consciente aprende a
administrar as emoções de forma que elas fiquem contidas e sociáveis;
algumas vezes, escondidas. Sentimentos como tristeza, alegria, decepção,
medo, raiva, amor e amizade fazem parte de nossa intimidade, área à
qual poucos têm acesso. E é aí que entram o papel e o poder da arte! A
beleza gerada pela interpretação, pela música, pela dança e pelo teatro
tem a capacidade de atrair, de gerar emoção e, assim, atingir nosso
íntimo. E nesse ponto é importante que a apresentação seja boa
tecnicamente. Se não há beleza, a mensagem se perde por não ser atrativa
e erra no primeiro degrau da missão.
Para que a mensagem seja ouvida, o ouvinte tem de estar atento, tem
de ser “fisgado” pelo atrativo que lhe é apresentado. E, quando isso
acontece, algo fundamental ocorre: temos acesso à intimidade do outro.
Assim, alguém que nunca havia partilhado o sofrimento vivido com
ninguém, ao ouvir uma canção ungida, bela e emocionante chora e abre o
coração.
Desse modo uma lembrança que havia sido enterrada e esquecida volta à
tona e faz com que os sentimentos se aflorem. Pronto! A arte cumpriu
seu primeiro papel de driblar nossas defesas emocionais e conseguir
chegar ao interior dos corações com sua beleza.
No entanto, esse é só o primeiro passo. E, até esse ponto, a arte do
mundo secular está muito mais avançada do que a arte cristã. Os filmes,
as peças teatrais e as músicas conseguem abalar as emoções de multidões.
Como cristãos, o nosso diferencial, a nossa missão verdadeira como evangelizadores, está no que vem depois.
Quando as defesas dos espectadores se abaixam é chegada a hora de
apresentar o Amor, a Pessoa que pode transformar todo aquele interior em
uma nova realidade, mais viva, feliz, inteira, pacífica e livre.
Todo o nosso esforço técnico deve ser empregado para que tenhamos a
oportunidade de chegar a esse momento e promover esse encontro. Contudo,
quando aí chegamos, só podemos oferecer o que já é nosso. Só poderemos
apresentar o Senhor ao outro, com profundidade, detalhes e verdade, se
formos íntimos d’Ele.
A experiência de Jesus Cristo não pode ser narrada, tem que ser
vivida e dividida. E essa graça é assimilada na nossa humanidade no dia a
dia e pode ser partilhada com os outros por intermédio de nosso
ministério. Nesse momento, não há mais somente a pregação, que também é
um importante atrativo e, sim, a fé provada, vivida e testemunhada. É
preciso que nosso lugar de intimidade com Deus esteja povoado por esse
Amor para que os outros se convençam de que Ele é real e, desse modo, se
rendam a essa experiência.
Fico feliz quando vejo um show com grande qualidade técnica e forte
espiritualidade cristã. E peço a Deus que assim seja e que possamos cada
vez mais crescer tecnicamente. Pois o que vai transformar o mundo é o
quanto conhecemos do Filho de Deus e o quanto já permitimos que Ele se
torne o centro de nossa vida, o morador permanente de nossa alma.
Por essa razão, vamos investir em nossa vida com Deus, gastar tempo
com Ele, permitir que Ele entre nos locais mais escuros e escondidos de
nossa alma para que saibamos mostrar o caminho àqueles que bebem de
nossa arte.
A nossa missão real é ser de Deus!
Fonte:Canção Nova
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