Como lidar com os conflitos entre músicos e padres
Todo músico, em especial todo coordenador de ministério de música, um
dia sentiu seu coração bater acelerado quando o padre o convidou para
uma reunião sobre “como anda a música na Missa”. Se o relacionamento
entre os dois é agradável e baseado em confiança, tudo bem, mas se
existem desacordos, incompreensões ou mágoas antigas, uma reunião que
poderia realinhar expectativas e melhorar o serviço litúrgico pode se
tornar um campo de batalhas. O que fazer para evitar que isso aconteça?
1 – A melhor maneira de vencer uma discussão é evitá-la!
Sim! Comece a reunião antes de estar diante do sacerdote.
Mentalmente, organize seus pensamentos, dê limites à imaginação e
fantasia, cuide das mágoas, para que não sejam elas as redatoras das
suas falas. Pesquise, nas Sagradas Escrituras, momentos em que Jesus
conversou com os apóstolos, quando os profetas exortaram os reis e os
primeiros cristãos conversaram entre si (Atos dos Apóstolos e
Epístolas). Leia, medite e reze. Isso organizará sua mente e seu
espírito, dando-lhe uma atitude de boa vontade.
2 – Escute com atenção sincera
Não tenha pressa em sair reivindicando os anseios e necessidades do
ministério de música! Ouça! Ouvir com atenção sincera deixa mais à
vontade a pessoa com quem estamos dialogando, deixa-a mais desarmada e
confiante de que está sendo acolhida. Além de boa educação e sinal de
respeito à hierarquia, é também uma boa estratégia para construir um
diálogo verdadeiro e tranquilo. Demonstre sempre boa vontade.
3 – Não critique, não condene nem se queixe
Li esse conselho em um livro muito interessante, e sugiro que você o
adquira: ‘Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas’, de Dale Carnegie.
Todos nós queremos fazer amigos, e precisamos, muitas vezes, influenciar
para conquistar aquilo que é necessário para um bom desempenho em nosso
ministério.
Ninguém gosta de ser criticado! De ouvir: “Está acontecendo
exatamente como eu disse!” ou “Eu avisei que isso não daria certo!”.
Isso coloca nosso interlocutor em uma posição frágil, como se seus
esforços tivessem sido em vão, como se sua competência tivesse sido
demonstrada incompetente. Quem, depois disso, teria condições de ser
proativo, criativo, disponível? Colocar-se no lugar do outro é uma ótima
forma de obter a confiança da pessoa com quem estamos nos reunindo.
Evite dizer “você está errado”. Ninguém gosta de ouvir isso. Não se
trata de tratar o outro como ele quer ser tratado, mas de buscar um
caminho de tranquilidade. Dizer que o outro está errado não vai fazer
com que ele devolva a resposta: “Diga-me onde, quero acertar!”. Dizer
que o outro está errado vai, simplesmente, acionar as mágoas e
frustrações passadas e trazer à tona sentimentos e rancores, que em nada
contribuirão para o bom andamento da reunião.
Honesta e verdadeiramente, tentemos entender o ponto de vista do
outro. Demonstremos simpatia. Às vezes, sentimos, mas não demonstramos, e
esse é um erro grave de uma sociedade que não alia sentimento à razão.
Quando alguém demonstra simpatia por nós, tendemos a ser mais abertos às
sugestões e ponderações que possam vir do outro lado da mesa.
4 – Lembre-se de explicar com clareza suas ideias, e de forma repetida!
Muitas vezes, remoemos tantos nossos pensamentos e ideias, que eles
se tornam tão claros e absolutamente óbvios para nós! No enanto, nós nos
esquecemos de que, quando as apresentamos para alguém, pode ser a
primeira vez que aquela pessoa olha por aquele prisma. É preciso
explicar, de forma clara, e repetir muitas vezes; às vezes, de forma
espaçada.
Dou um exemplo: quando dou aula de violão, aviso meu aluno sobre uma
técnica que ele está fazendo de forma errada. Demonstro o porquê e as
consequências. Ele, no entanto, não consegue fazer, naquele momento, de
forma diferente; então, retruca a sentença: não consigo! E abandona
minha sugestão. Na semana seguinte, encontro um vídeo de algum músico
tocando da forma como eu havia sugerido ao aluno e mando o link pelo
telefone com a mensagem: “Foi isso que lhe falei! Se ele consegue, você
também consegue!” Não recebo resposta. Na aula seguinte, inicio tocando o
trecho em questão e pedindo ao aluno que tente algumas poucas notas do
“meu jeito”. Ele parece mais disponível e não nega a tentativa. Na
semana seguinte, lá está ele fazendo toda a parte com a técnica
adequada.
A mente é progressiva, ela precisa se acostumar com as ideias.
Precisamos torná-las familiares. Assim será natural que sejam
reconhecidas e aplicadas como sendo um “bom caminho para solucionar
aquela dificuldade”.
As quatro possibilidades diante de problemas entre o ministério e o sacerdote
Servir é desafiador. Às vezes, tudo vai bem, mas, às vezes, tudo vai
muito mal. Tendemos a adotar quatro atitudes diante das dificuldades
enfrentadas. São elas:
- Desistir
Apenas seguimos nosso caminho e dizemos a nós mesmos: “não é nosso
lugar”, “não tenho nada a acrescentar”, ou ainda, “não faço diferença,
porque ninguém aceita as minhas sugestões e críticas”. Desistir pode até
ser uma solução momentânea, mas, lá adiante, você se enfrentará
novamente com a mesma situação. Desistir não constrói nada a longo
prazo.
- Negligenciar
Você diz para si mesmo: bem, se é assim, também não vou me “matar”
para realizar minha função. Farei o mínimo possível. Mas no fim, o que
acontece é que você começa a se desinteressar de tal forma, que tende a
deixar sua produtividade na dimensão do “suficiente”. Lembre-se da frase
de Santo Agostinho: “Não basta fazer coisas boas. É preciso fazê-las
bem!”.
- Persistir
Persistir é “ranger os dentes e aguentar. Trabalhar duro, mesmo que o
serviço seja sufocante”, diz-nos Adam Grant no seu livro ‘Originais’. A
longo prazo, a sentença é a animosidade no ambiente e o desânimo que,
invariavelmente, pode levar a desistir ou negligenciar. Persistir não
organiza novas relações e dinâmicas de trabalho.
- Discutir
Discutir não é ganhar a discussão, é buscar o caminho que possibilite
novos horizontes e rotas, é criar troca baseada em confiança, saber que
fazemos todos parte de um mesmo corpo. É minimizar disputas de poder e
argumentação. É colocar o serviço à frente de quem está servindo.
Discutir organiza o espaço físico e emocional de um ministério,
organiza um diálogo franco e generoso com o sacerdote e desenvolve um
ambiente de confiança e valorização, onde haja críticas, para achar
melhores soluções, mas também elogios que reforcem os acertos
realizados. Assim como Jesus, que não deixava de apontar os erros, mas
não era obstinado nem apressado em criticar os outros com quem se
encontrava.
Augusto Cezar
Músico da banda DOM, compositor, escritor de 3 livros, professor e
palestrante. Não sou nada do que realizei. Fui e sou tudo o que amei e
amo. Além disso, não sou mais nada. www.augustocezarcornelius.com.br
Fonte: Canção Nova
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