“A Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)
A Igreja, de alguma forma, é expressão da Palavra de Deus. Temos
Igreja, porque a Palavra do Senhor veio até nós e falou-nos, disse-se
inteira para nós, e foi acolhida. Somos filhos e filhas da Palavra –
tornamo-nos o que escutamos! Ela nos dá o conselho e a luz, o consolo e a
esperança. Todos os dias, ela precisa estar em nossas mãos, ser olhada e
cair em nosso coração, vestir nosso corpo, calçar nossos pés e ungir
nossas mãos. Assim, nossos comportamentos e nossa vida serão expressão
da Palavra de Deus. Precisamos nos voltar à Palavra, a fim de acolhê-la e
obedecer-lhe, amá-la e vivê-la, procurá-la, guardá-la e anunciá-la.
Mais: ‘só quem se coloca, primeiro, à escuta da Palavra, é que pode
depois tornar-se seu anunciador’ (VD 51). Como diz nosso Papa Francisco,
lidemos com a Palavra de Deus, assim como lidamos com nosso celular.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Só é possível compreender vivendo
O povo de Deus que nasceu da Páscoa, isto é, a comunidade que, pela
fé, entrou em aliança de amor com seu Deus, é chamado a expressar,
mediante a obediência à Palavra do Senhor, a fidelidade à aliança
estabelecida. Sua vocação será ouvir a Palavra e observá-la, escutá-la,
segui-la e cumprir a vontade do Senhor. Nós, Igreja, povo de Deus,
precisamos aprender que a obediência à Palavra vale mais do que
sacrifícios e holocaustos (Is 15,22). E tenhamos como certo: só é
possível compreender a Escritura vivendo-a.
Existe uma relação, clara e ao mesmo tempo misteriosa, entre Igreja e
Palavra de Deus, entre a vida do povo e a obediência à Palavra, entre
força da fé e apego à Sagrada Escritura, entre discernimento da vontade
de Deus e meditação assídua da Sua Palavra. Compreendemos que não pode
existir povo de Deus, não pode existir Igreja, sem Palavra de Deus. Não
pode existir liberdade sem obediência à Palavra. Não pode existir festa
sem fidelidade à aliança estabelecida com Deus. Compreendemos também que
não pode surgir uma comunidade, como família unida em Cristo, que seja
viva e operante, sem que a Palavra ocupe um lugar importante na vida dos
irmãos e irmãs.
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Acolher a Palavra é acolher o próprio Deus
Tampouco, não nos passa despercebido que existe uma relação íntima,
estreita e profunda, entre abandono da Palavra de Deus e a deterioração
da fé, entre desinteresse pela Palavra e quebra das relações fraternas.
Mais: creio que a atual decadência da experiência cristã em amplos
setores de nossa sociedade tem a ver com o desprezo da vontade de Deus.
Obedece-se pouco ao que Deus diz. O que Ele diz não importa hoje. Eis o
mundo que temos!
Na Palavra, o Senhor se revela e entrega-se a nós. Com a Palavra, Ele
nos ilumina e transforma; pela Palavra, liberta-nos e guia,
interpela-nos e nos acusa, admoesta, consola e salva. Somos um povo que
crê num Deus que fala e se revela. Somos uma Igreja que vive à escuta da
Palavra e faz o que Ela diz. A Palavra de Deus é nossa mesa da saúde.
Para o povo de Deus, acolher a Palavra é acolher o próprio Deus; e
acolher Deus é acolher a vida. Para o povo, a Palavra é a fonte da vida.
Somos Igreja fundada na Palavra, que é o próprio Senhor. Assim, nossa
missão e vocação, como Igreja, é presentear Deus hospedado em nós.
Dom João Inácio Müller
Dom João Inácio Müller é Bispo da Diocese de Lorena (SP) e articulista da Revista Canção Nova.
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