Saibamos quais são os fins principais para que a Santa Igreja celebre a solenidade de Todos os Santos
Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja, fundador da
Congregação do Santíssimo Redentor, mais conhecida como Redentoristas,
afirma que são três os fins principais que a Santa Mãe Igreja tem em mente ao mandar celebrar a solenidade de Todos os Santos:
Em primeiro lugar, a Igreja pede que honremos seus filhos que já triunfam nos Céus, especialmente aqueles que, no decorrer do Ano Litúrgico,
não tiveram uma festa própria. Para que as nossas homenagens nos tenham
proveito espiritual, ela quer, em segundo lugar, que nos animemos à
prática do bem, pela esperança do Céu. E, finalmente, a nossa boa Mãe
quer aumentar a nossa confiança, dando-nos a entender que esses nossos
bem-aventurados irmãos se empenhem para obter-nos os favores divinos.
Que fins tão nobres e consoladores tem a solenidade de Todos os Santos!
Meditações sobre os três fins da solenidade de Todos os Santos
Consideremos os fins nobilíssimos que a Igreja quer alcançar,
fazendo-nos celebrar, hoje, a solenidade de Todos os Santos. Ela quer,
em primeiro lugar, que honremos seus Filhos, que já estão de posse do
Céu, em companhia do Esposo Divino, especialmente àqueles que, no
decorrer do ano, não tiveram uma festa própria. Ao mesmo tempo, a Mãe
Igreja quer que demos graças a Deus em nome dos santos.
A Liturgia dessa solenidade
convida-nos a compartilhar o júbilo celeste dos santos, a saborear a
sua alegria. Os santos não são uma exígua casta de eleitos, mas uma
multidão inumerável, para a qual a Liturgia de hoje nos exorta a
levantar o olhar, como fez o Apóstolo e Evangelista São João: “Vidi
turbam magnam, quam dinumerare nemo poterat, ex omnibus gentibus, et
tribubus et populis et linguis — Vi uma grande multidão, que ninguém
poderia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9).
Nessa multidão, não estão somente os santos oficialmente reconhecidos
pela Igreja Católica, mas também os batizados de todos os tempos, de
todas as nações, que procuraram cumprir, com amor e fidelidade, a
vontade de Deus. “De uma grande parte deles não conhecemos os rostos nem
sequer os nomes, mas, com os olhos da fé, vemo-los resplandecer, como astros repletos de glória, no firmamento de Deus”1.
Grandes pecadores
Em segundo lugar, a Igreja quer que essas homenagens nos sejam
proveitosas, que nos sirvam para elevarmos o nosso espírito aos Céus e
nos estimulem à prática das virtudes pela contemplação dos bens eternos
que nos esperam, se perseverarmos. Entre os incontáveis santos
que veneramos nesta Solenidade, há muitos de nossa idade e condição, e
talvez, como nós, foram grandes pecadores. Com isso, parece que a Igreja
nos diz hoje com Santo Agostinho: “Não poderás tu fazer o que puderam
fazer eles? – Tu non poteris quod isti et istae?”2
A contemplação do exemplo luminoso dos santos deve despertar em nós o
grande desejo de ser como eles: “felizes por viver próximos de Deus, na
sua luz, na grande família dos amigos de Deus. Ser santo significa: viver na intimidade com Deus, viver na sua família”3. A santidade é a vocação de todos nós e não somente de uma elite, recordou-nos o Concílio Vaticano II 4 e nos propõe a Igreja nesta solenidade.
Dogma da comunhão
Por fim, com a solenidade de Todos os Santos, a Igreja quer aumentar a
nossa confiança, recordando-nos o dogma da comunhão dos santos e
ensinando-nos que todos esses bem-aventurados irmãos exercem, em nosso
favor, todo poder de que gozam junto de Jesus Cristo, o Rei da glória
celeste.
“Oh, que verdade tão consoladora! Os santos do céu,
lá no meio do seu triunfo, não se esquecem das nossas misérias e
oferecem-nos o seu auxílio. No dizer de São Bernardo, já que os santos
nada mais têm que pedir para si mesmos, porque são plenamente felizes,
têm um vivo desejo de interceder por nós; e se não nos tornamos indignos
pelas nossas faltas, obtêm-nos de Deus tudo o que querem. Que verdade
tão consoladora! Que fins sublimes da parte da Igreja na instituição da
festa de todos os Santos!” 5
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A nossa atitude na solenidade de Todos os Santos
Apresentando-nos à Santa Mãe Igreja, elevemos, hoje, nossos corações
aos Céus, onde reina o Deus onipotente, todo solícito em santificar as almas,
suas queridas filhas. Contemplemos como esses bem-aventurados
compreensores – aqueles que, gozando da visão beatífica, compreendem os
mistérios divinos – experimentam delícias tais, que a nossa inteligência
não pode compreender, e a nossa linguagem é incapaz de exprimir.
Alegremo-nos com todos os santos! Por eles, rendamos graças a Deus e
animemo-nos ao pensar que, um dia, também poderão terminar para nós os
temores, as doenças, as perseguições e as cruzes. Mais ainda, se nos
salvarmos, tudo isso será para nós motivo de júbilo e glória eterna no
Reino dos Céus.
Animados pela certeza de fé de que os santos desejam nos ajudar,
lancemo-nos em espírito aos seus pés e exponhamos, confiantemente, a
esses nossos amigos celestes as nossas necessidades. Ademais, não nos
esqueçamos de pedir a eles pelos pobres pecadores. Roguemos também pelas
almas do purgatório, a fim de que, no dia da sua comemoração, possam
entrar em grande número na glória dos Céus.
Oração de Santo Afonso Maria de Ligório aos Santos e Santas de Deus
“Ó santos e santas de Deus, ó bem-aventurados espíritos angélicos,
que estais abismados nos resplendores da glória divina! Eu, vosso
humilde servo, saúdo-vos deste vale de lágrimas, venero-vos com amor e
dou graças ao Senhor vos ter sublimado a tão alta beatitude. Mas vós, lá
dos vossos tronos excelsos, dignai-vos volver a mim vossos olhos
piedosos. Vede os perigos que corro de me perder eternamente. Pelo amor
de Deus,
que é a vossa grande recompensa, obtende-me a graça de seguir fielmente
as vossas pegadas, de imitar corajosamente os vossos exemplos, de
copiar em mim as vossas virtudes; afim de que, de admirador que sou,
chegue a ser, um dia, o vosso companheiro na glória imortal.
‘Onipotente e eterno Deus, que me concedeis a graça de venerar em uma
só festividade os méritos de todos os vossos santos, concedei-me também
que, multiplicados os meus intercessores, obtenha a plenitude das
vossas misericórdias’. Fazei-o pelo amor de Jesus e de Maria” 6 .
Amém!
Amém!
Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
Referências:
1 PAPA BENTO XVI. Homilia na celebração da Santa Missa na Solenidade de Todos os Santos, 1 de Novembro de 2006.
2 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações para todos os dias e festas do ano – Tomo III, p. 383.
3 PAPA BENTO XVI. Op. cit.
4 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 39-42.
5 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 383.
6 Idem, p. 384.
Fonte: Canção Nova
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