Síndrome de Down, que afeta o
desenvolvimento intelectual e provoca características físicas
reconhecíveis, afeta uma a cada 700 crianças nascidas
Marina Dantas, 11 anos, faz dança, teatro e ainda gosta de cozinhar.
Algumas vezes já surpreendeu os familiares ao fazer o próprio
café-da-manhã. Ela tem Síndrome de Down e mostra que é possível fazer
tudo que qualquer outra pessoa pode fazer dentro de suas limitações.
Nesta quarta-feira (21), é lembrado o Dia Internacional da Síndrome de
Down.
Com isso, revela uma autonomia conquistada com o incentivo da mãe, a
fisioterapeuta Emília Dantas, de 37 anos, que luta para a superação de
inúmeros desafios. Hoje, o maior desafio ainda é a inclusão na
sociedade, principalmente na educação.
“A questão do papel social da pessoa com Síndrome de Down. O que essa
pessoa tem para contribuir para a sociedade? É vê-los ocupando o
mercado de trabalho. Tudo que a gente pensa para uma pessoa comum pensar
para eles”, frisou a fisioterapeuta. A menina já sofreu situações
preconceituosas e embora hoje seja menor ainda há muitas lutas a vencer.
Na Paraíba, segundo dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), há 61.996 deficientes intelectuais, nos
quais estão incluídos os portadores de SD.
O diagnóstico de que a primeira filha tinha Down só foi feito após o
parto. “Não foi visto na ultrassom. Realmente foi um choque. Eu não
estava preparada. Na época eu só tinha 26 anos”, comentou, destacando
que na época tinha experiência em atender crianças com a síndrome, mas
ainda tinha poucas informações dos cuidados.
“Eu transformei a minha casa em uma clínica de fisioterapia porque
cada vez que eu estimulasse sabia que ela iria se desenvolver mais”,
frisou. No entanto, a mãe de Marina buscou alternativas médicas. Foi até
São Paulo onde conseguiu conversar com um especialista em SD, o médico
Zan Mustacchi, que até hoje ainda acompanha a adolescente.
A inserção na escola regular foi uma situação que gerou preconceitos
em algumas fases da vida. Sua primeira matrícula foi aos 10 meses de
idade. No começo, houve um apoio de profissionais da educação que
‘vestiram a camisa’ da inclusão. Porém, para a mãe de Marina a educação
ainda tem falhas no que se diz respeito à pessoa com deficiência.
Hoje a menina já é uma pré-adolescente e a mãe tem uma nova visão
sobre a educação da filha. Por algum tempo, a filha de Emília dividia a
educação entre a regular e a inclusiva. Este ano, a opção foi deixá-la
apenas na inclusiva, a Novo Olhar, que funciona no Bairro dos Estados,
em João Pessoa. O local oferta inúmeras atividades para desenvolver os
talentos de cada um, já que o ensino regular ainda sofre com muitas
lacunas.
“Hoje eu prezo pela felicidade dela. Ela já sabe ler, escrever e já conquistei muitas coisas que não imaginaria conquistar. O que faz ela feliz? Ela ama dança. Eu estou investindo muito em dança, teatro porque ela tem essa desenvoltura. Ela faz aula de hip-hop, fit dance, dança folclórica, teatro. Eu estou apostando nisso e não estou deixando de trabalhar aquilo que ela sabe, o que ela tem de Matemática, Português e trazendo de acordo com o currículo dela. O livro de Matemática dela é de primeiro ano e o de Português do segundo e eu posso fazer isso e em uma escola regular eu não posso fazer isso”, afirmou.
“É difícil você fazer uma inclusão nos modelos tradicionais de
organização de ensino escolar. Esses modelos tradicionais são muito
difíceis de fazer uma inclusão verdadeira porque as transformações na
escola têm que ser drásticas, radicais. Eu acho as escolas ainda não
estão prontas. A visão ainda é competitividade, Enem e eu querer um Enem
para a minha filha é uma crueldade. Ela não tem um pensamento abstrato.
Apenas 1% das crianças com Síndrome de Down compreende aquilo que lê.
Isso não eu que estou dizendo, são os livros de Medicina”, disse.
Escola inclusiva para a pessoa com deficiência
A Síndrome de Down, que afeta o desenvolvimento intelectual e provoca
características físicas facilmente reconhecíveis, afeta a realidade de
uma a cada 700 crianças nascidas, segundo estimativa da Organização
Mundial de Saúde. Levar educação com métodos adequados para essas
pessoas é um desafio que precisa ser vencido.
A escola que Marina Dantas estuda é a Novo Olhar, que funciona no
Bairro dos Estados. A diretora é a professora, psicopedagoga e psicóloga
Ana Sofia de Alencar Maia, de 60 anos, que trabalha há 45 anos com a
inclusão da pessoa com deficiência.
Na unidade de ensino criada em 1999 atende crianças e adolescentes
com deficiência intelectual e cognitiva (autistas, Síndrome de Down,
entre outras). No começo não havia muitas pessoas com deficiência, mas
com o passar dos anos se necessitou ter um ‘novo olhar’ para aqueles que
têm alguma deficiência.
“Quando a gente quer, a gente vence qualquer barreira. E os nossos
alunos têm condições para isso. Sabem cantar, dançar, apresentar, ler e
escrever e são cidadãos comuns”, revelou.
Nessa unidade de ensino, além de serem alfabetizados, os alunos ainda participam de diversas atividades como teatro, arte terapia, computação, natação, entre outras. Este ano, um dos projetos é publicar junto com a escritora Socorro Barbosa, que tem um trabalho com os estudantes, um livro contando as histórias.
“Os desafios são gigantes são imensos. Nós encontramos muitas
barreiras, inclusive com as próprias escolas que trabalham com pessoas
com deficiência, com as próprias associações. Nós temos uma associação
também. Ao invés de integrar, elas se separam, gerando um preconceito. A
gente precisa se unir”, afirmou.
“O preconceito no Brasil é grande não só com a pessoa com
deficiência, mas com gordo, magro, feio, bonito, que eles acham que são.
Os conceitos estão aí e as pessoas continuam investindo nisso. A gente
vê o preconceito nas escolas de todo tipo, grande ou pequeno”, disse.
Funad realiza atividade
Segundo Jaína Soraya de Medeiros, coordenadora do Setor Intelectual
da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência
(Funad), os direitos da pessoa com Síndrome de Down são os mesmos da
pessoa com deficiência que é inclusão nas escolas regulares, com direito
a carteirinha, acesso ao transporte. A Funad atende a 180 pessoas.
e a pessoa com down tiver algum transtorno associado tem direito a um
cuidador. Hoje, na sede da Funad tem um seminário a partir das 8h, no
auditório para discutir Síndrome de Down e a comunidade.
Síndrome de Down
A síndrome é uma condição genética caracterizada pela presença de um
cromossomo a mais nas células do indivíduo. Isso ocorre geralmente
durante a divisão celular do embrião, e sua causa até hoje é
desconhecida. A síndrome é basicamente um atraso global do
desenvolvimento motor e mental. Se bem estimulada, a criança com
Síndrome de Down pode alcançar bons níveis de coordenação motora, fala,
escrita e desenvolvimento social.
Entre as características estão hipotonia muscular (condição na qual o
tônus muscular está anormalmente baixo, geralmente envolvendo redução
da força muscular), língua protusa, prega palmar única e olho amendoado
com prega epicântica (prega de pele da pálpebra superior, do nariz até
ao lado interior da sobrancelha, cobrindo o canto interior do olho).
Fonte: Portal Correio
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