Deus investe na nossa santidade, através dos Sacramentos
Nestes próximos artigos da série Caminho Espiritual e as Moradas
veremos como Deus, além de não nos deixar sozinhos na construção da
vida espiritual, investe enormemente na nossa santidade fornecendo os
meios necessários para a santificação.
Lembremo-nos que nas primeiras moradas que já refletimos, a Igreja
ensina: “só quando os germes estranhos forem tirados do campo do nosso
coração, as sementes da virtude podem ser convenientemente alimentadas
em nós”. Essa verdade, aqui registrada nas palavras do Papa São Leão
Magno (Sermão XXXIX), nos lembra de que as primeiras moradas são o
território em que nos defrontamos com nossas próprias falhas, vícios e
paixões. Elas, via de regra, impedem nosso avanço espiritual e constroem
aquela imensa fatia de cristãos que, embora fiéis à Igreja e professando uma fé verdadeira, não são tão exemplos de conduta e santidade.
Ressaltamos que, Aquele que nos chama à santidade, não nos abandona
no caminho, nem nos deixa sucumbir sobre um pesado fardo (Sl 54,23). Ele
também não age com prepotência esperando que tenhamos corrigido
plenamente nossa humanidade para depois nos presentear com dons e
virtudes espirituais (Rom 5,6). Assim, estar em “estado de graça”, após
uma confissão
válida, significa que Deus derrama sobre o batizado a Graça
Santificante, ou seja, um organismo sobrenatural que nos torna capazes
de ouvi-Lo e acatar a Sua vontade para nós. Claro que, como vimos nos
artigos anteriores, nossas tendências desregradas e paixões cultivadas
por muitos anos, acabam criando uma barreira à ação plena de Deus em
nós. Somente com o avanço nas moradas e a retirada dos “germes
estranhos” é que as “sementes da virtude” infundidas por Deus em nós,
através da Graça Santificante, podem germinar e desenvolver-se com
força.
Os Sacramentos que nos impulsionam
Um meio altamente eficaz de aumentar a Graça Santificante e, consequentemente, a recepção de virtudes e dons, é por meio dos Sacramentos.
Para a vida espiritual, dois deles colaboram durante todo o percurso
rumo à santidade e, também, fornecem um grande impulso para atravessar
as primeiras moradas.
O Sacramento da Eucaristia
é o mais sublime de todos os sacramentos. É o próprio Cristo em
presença real. Chama-se presença real porque além da alma e divindade de
Jesus, entramos em contato com o Seu Corpo e Sangue materiais. Temos
plenamente Jesus em Sua divindade e humanidade. Isso não quer dizer que a
presença de Cristo na comunidade, na oração particular ou na Palavra
seja menos verdadeira, somente não tem essa conotação também material e,
dessa forma, atua poderosamente no nosso corpo e materialidade.
Para o caminho de perfeição precisamos nos convencer cada vez mais
desta certeza: ao comungar, temos um contato direto com Deus e, Ele
mesmo, vem habitar em nós. Essa presença real aumenta enormemente a
graça santificante e, quanto mais estivermos preparados, abertos e
ansiosos por recebê-Lo, mais essa presença real será aumentada. É por
essa disposição interior mais perfeita que duas pessoas recebem o mesmo
Cristo e uma delas colhe frutos melhores e mais profundos. Assim, quanto
melhor é a participação na Santa Missa, quanto melhor está preparado o
coração de quem comunga, maior e melhor será a aquisição de graças.
Infelizmente é necessário lembrar aqui que, quem comunga em estado de
pecado mortal, não só não recebe nenhuma dessas graças, como se condena
acrescentando um novo e mais grave pecado:
participar indignamente do Corpo e Sangue de Cristo (1Cor 11,29).
Usando uma metáfora, aquele que comunga sem se confessar, atua como
Judas Iscariotes e, sob a aparência de um gesto de amor, esconde uma
traição.
A importância da Eucaristia
A Eucaristia repercute em nós como a oração; quanto mais, melhor.
Mas, exatamente como a oração, a Eucaristia não pode ser um gesto
mecânico, sob o risco de perder a eficácia. Assim, ir à Missa
diariamente e comungar frequentemente por puro “hábito”, sem atenção e
reverência ao que se está fazendo, é um caminho certo para lugar nenhum.
Pior, podemos desenvolver uma impermeabilidade à Fé
e uma insensibilidade aos nossos próprios pecados. Comungar, portanto,
precisa ser sempre um ato consciente de fé e amor. Sendo assim, se for
diário e bem feito, é melhor.
Outro ponto importante para o crescimento da vida espiritual com a
Eucaristia é nos lembrarmos de sempre realizarmos uma completa e
eficiente ação de graças após a comunhão. Durante o tempo em que as
espécies ainda não se dissolveram no nosso organismo, temos em nós o
Cristo, em uma união tão íntima como jamais poderíamos tê-Lo se Ele
estivesse andando entre nós, como fez com o discípulos d’Ele. É o
momento de amá-Lo e treinar esse contato com Ele. Sim, isso mesmo,
treinar. Precisamos ter cada vez mais consciência desse contato e
mantê-lo ativo em nós. É um treinamento porque, mais tarde, quando
tivermos em adoração ou simples oração, precisamos nos lembrar de que
estamos estabelecendo um verdadeiro contato com o Senhor e nesse novo
contato, precisamos amá-Lo da mesma forma que O amamos na ação de graças
após a comunhão.
Leia mais:
.: A santidade está ao alcance de todos e de qualquer cristão
.: Como seguir os passos dos santos e viver uma vida de santidade?
.: A confissão é o caminho que nos aproxima de Deus
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Como relatado no artigo anterior,
precisamos crescer e evoluir nos nove graus de oração até a santidade
perfeita e, este artigo é uma espécie de caminho, equivalente o das
Moradas, mas com outra divisão. É o contato com o Senhor na Eucaristia e
o treino em amá-Lo durante essa presença real em nós, que nos prepara
para o terceiro grau de oração: a oração afetiva. Nesse tipo de oração,
mais do que falar com Deus (primeiro grau ou oração vocal), mais do que
pensar em Deus (segundo grau de oração, oração mental ou meditação),
precisamos amar a Deus cada vez mais e nos afeiçoar a Ele (oração
afetiva). Esse grau de oração só é alcançado plenamente, nas segundas
moradas. Mas é necessário uma prévia aqui, para que possa ficar claro a
importância do Sacramento da Eucaristia nesse treinamento para um grau
mais elevado de oração.
O padre Antonio Royo Marín, OP, lembra que, nunca expulsamos uma
visita que recebemos na nossa casa. Esperamos que ela vá embora sozinha.
E, se a amamos, se ela é importante para nós, se for uma alta
autoridade, pedimos para que fique o máximo de tempo possível em nossa
companhia. Do mesmo modo, ao receber Jesus na comunhão, não devemos sair
correndo, começar a conversar ou nos distrair com qualquer coisa. A
hora é de acolhê-Lo e amá-Lo o máximo de tempo que nos for permitido.
Os sacramentos que fortalecem a alma contra o pecado
O outro Sacramento que serve de impulso nas primeiras moradas é o sacramento da Reconciliação, da Penitência ou da Confissão.
Já tratamos dele como condição fundamental para habitar o Castelo
Interior da própria alma e avançar nas moradas rumo à santificação
pessoal. No entanto, além de nos restituir a graça santificante com o
perdão dos pecados mortais, ele tem uma outra ação eficaz na
santificação: fortalecer a alma contra o pecado.
É fato que, mesmo com grande esforço para levar a vida espiritual
com seriedade e desejo sincero de não errar, acabamos caindo e
cometendo um pecado mortal. O Sacramento da Reconciliação, nesse caso,
não só restabelece em nós a Graça Santificante, como também infunde uma
fortaleza especial contra aquele pecado em particular. Assim, se ao
cair, existir um arrependimento imediato e sincero; e, o mais breve
possível, realizamos uma confissão válida, com verdadeiro desejo de
conversão, também recebemos uma virtude infusa para nos tornarmos mais
fortes diante daquele tipo de pecado.
Isso também é verdadeiro para os pecados veniais. Assim, embora não
seja necessário confessar os pecados veniais, se mesmo assim os
confessarmos com o sacerdote, o Sacramento da Reconciliação nos ajuda a
nos livrarmos mais rapidamente do risco de voltar a cair nesses mesmos
pecados. Os que se confessam regularmente, experimentam esta eficácia:
as quedas (no mesmo tipo de pecado) tornam-se cada vez mais espaçadas,
até que tornam-se raras e desaparecem.
Nas primeiras moradas vimos que devemos combater os dois vícios
principais: a ira e a concupiscência. A utilização frequente do
Sacramento da Reconciliação, focando principalmente em todos os pecados
dessas áreas, mesmo os veniais, ajuda a rapidamente vencê-los e a
desenvolver solidamente a virtude da paciência e a virtude da
temperança.
Na via ascética, embora pareça que todo o esforço para sermos santos
parte de nós, fica evidente que Deus atua com todos os meios possíveis
para nos santificar e nos renovar segundo a imagem daquele que Ele
enviou (Cl 3,9). Aqui vimos, detalhadamente, os dois sacramentos: a
Eucaristia e a Reconciliação. Nos próximos artigos desta série “Caminho
Espiritual e as Moradas”, veremos como as três virtudes teologais devem
ser vividas e aumentadas nas primeiras moradas. Logo depois, veremos
como os dons do Espírito Santo se apresentam e se desenvolvem em nós, um
após o outro, seguindo uma ordem bem clara e sucessiva, para nos levar
até as segundas moradas.
Fonte: Canção Nova
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