As virtudes aliadas à fortaleza
Na semana passada, nós tratamos da virtude cardeal da fortaleza.
Comentamos que, junto às virtudes cardeais, existem as virtudes anexas,
ou seja, aquelas que só se realizam se estiverem ligadas à primeira.
Esse é o tema dessa semana: as virtudes anexas à virtude da fortaleza.
A essa virtude andam anexas quatro outras virtudes: duas que nos
ajudam a praticar coisas árduas – a saber: a magnanimidade e a
magnificência –; e duas que nos auxiliam a bem sofrer: paciência e
constância. É o próprio São Tomás que as classificam como partes
integrantes e anexas à fortaleza.
Magnanimidade
É chamada também disposição nobre e generosa para fazer grandes coisas para Deus e para o próximo. É exatamente o oposto do egoísmo, que é um elevar-se acima dos outros. O desinteresse é a marca do magnânimo.
Trata-se de uma alma nobre, com o ideal elevando em ideias generosas;
é corajoso, sabe colocar sua vida em harmonia com seus ideais elevados.
São nobres sentimentos e ações. O magnânimo faz grandes ações de
benevolência na liderança de equipes e pessoas. Nas coisas de Deus, tem
metas elevadas de perfeição, que fica a todo custo procurando realizar.
Tem uma busca incessante das virtudes. Tudo sem medo de comprometer seus
bens, saúde, reputação e a própria vida.
O defeito oposto é a pusilanimidade, um temor excessivo de reveses,
hesitação e falta de ação. Para evitar situações desagradáveis, a pessoa
fica na inércia, fazendo nada ou quase nada, tendo assim uma vida
inútil.
Vale mais expor-se a pequenas humilhações que ficar sem ação.
Magnificência
É empreender obras grandiosas, mesmo que resulte em grandes despesas.
Quando se pretende a Glória de Deus e o bem de nossos semelhantes,
sobrenaturalizamos o desejo natural da realização de grandezas. Assim se
vence o orgulho. Gastamos o que for preciso em bens públicos, obras de
arte, construções de igrejas,
hospitais, escolas e tudo o que favorecer o bem público. Busca-se
superar o apego ao dinheiro e o desejo de aumentar os rendimentos. Uma
excelente virtude para os que têm muitas posses! Também aos
administradores, mostrando-lhes que o melhor emprego das riquezas, que a
providência lhes confiou, é imitar a liberalidade e magnificência de Deus nas Suas obras.
São Vicente de Paulo não era rico. No entanto, quem pôde se igualar a ele em obras pelos necessitados?
Paciência
A paciência é a virtude que nos faz suportar, por amor de Deus e em união com Jesus Cristo, os sofrimentos físicos e morais.
Todos nós padecemos o suficiente para sermos santos,
se o soubermos fazer corajosamente e por motivos sobrenaturais. Pelo
contrário, preferimos reclamar, queixar-nos e praguejamos, às vezes, até
a própria providência. Sofrer por orgulho ou cobiça também é o oposto
da paciência. O verdadeiro motivo deve ser sempre a submissão à vontade
de Deus.
Um poderoso estímulo é meditar sobre como Jesus sofreu e morreu por
nós. Ele, o inocente, suportou as maiores torturas físicas e morais para
nos resgatar, e nós, culpados, não nos rebaixamos a sofrer por conta
dos próprios pecados e ainda para completar a Paixão do Divino Salvador. Eis aqui o segredo da paciência heroica dos santos e do seu amor à cruz.
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A paciência tem graus que correspondem à vida espiritual
O primeiro grau seria o sofrimento aceito como dom de Deus, sem
murmurar nem se revoltar, com esperança nos bens celestes à lucrar.
Aceitar querendo a própria conversão. Independente do que ocorrer,
sujeita-se à vontade de Deus.
O segundo grau trata-se de abraçar, de tal modo, o sofrimento, que a
alegria estará aí. Acompanha Jesus em cada etapa de seu Calvário.
Admira-O, louva-O, ama-O em todos os estados dolorosos em que se
encontrou no mundo. No seu presépio, na solidão, no seu exílio, nos
trabalhos da vida oculta, nas humilhações e fadigas da vida pública,
sobretudo em sua longa e dolorosa paixão. Imbuídos dessas motivações,
sentimo-nos mais corajosos frente à dor ou tristeza; estendemo-nos
amorosamente sobre a cruz, ao lado de Jesus e por amor d’Ele. A esperança do céu torna mais suportável e alegre os sofrimentos.
Assim, chega-se ao terceiro grau. O desejo e amor do sofrimento por
Deus, que desejamos assim glorificar, e pelas almas, por cuja
santificação queremos trabalhar. É o que convêm àqueles chamados à vida
apostólica. Assim como Nosso Senhor, que ofereceu a própria vida como
vítima de expiação pelos nossos pecados. Oferecer-se como vítima e pedir
a Deus mais sofrimentos, quer para reparar a glória divina, quer para
obter algum favor para o outro. É preciso cuidar para que não se façam
esses pedidos por meio de uma generosidade irrefletida que vem da
presunção. Fazem-se em momentos de fervor sensível, e uma vez passado o
fervor, sente-se a alma fraca para executar atos heroicos de submissão e
aceitação que se tinha feito com tanta energia. Daí provém grandes
tentações de desalento e até de murmúrios contra a providência. Não se
deve pedir sofrimentos se não houver o acompanhamento de um diretor
espiritual prudente.
A constância
É a virtude de lutar e sofrer até o fim, sem sucumbir ao cansaço, ao desalento ou à moleza.
A virtude não será sólida enquanto não tem a sanção do tempo,
enquanto não está consolidada por hábitos profundamente arraigados.
Esse sentimento de cansaço produz, muitas vezes, o desânimo e a moleza. Então, o amor do prazer e a saudade de estar dele privado retomam o predomínio, e a alma deixa-se ir ao sabor das suas más tendências.
Para combater essa fraqueza, é preciso oração. Pedir a Deus a graça
da constância, assim como Ele foi constante. Em seguida, é bom meditar
sobre a vida eterna: vale a pena sofrer um pouco nesta vida, tendo em
vista os bens que vamos adquirir para gozar de toda uma eternidade de
delícias. Lembrar-se que Deus pede de nós os esforços e não os
resultados. Mesmo, então, que os frutos não sejam grandes e aparentes. A
constância não exclui, pois, o descanso legítimo. Tudo está em tomá-lo
em conformidade com a vontade de Deus, segundo as prescrições da regra
ou de um prudente diretor espiritual.
Meios de adquirir ou aperfeiçoar a virtude da fortaleza
Àqueles que são orgulhosos e presunçosos, é preciso insistir na
desconfiança de si mesmos; aos tímidos e pessimistas, propõe-se com
insistência a confiança em Deus: “O que era fraco aos olhos do mundo,
escolheu-o Deus para confundir os fortes. O que era nada, para reduzir a
nada o que era forte” (I Cor. 1, 27).
Fortalecer sempre a convicção das grandes verdades, tais como o nosso
fim último e a necessidade de sacrificar tudo para alcançar esse fim. O
horror ao pecado, único obstáculo ao nosso fim.
Não se deixar arrastar pelos sentimentos de momento, muitas vezes,
resultado de nossas más inclinações, rotina ou interesse pessoal. Antes
de tudo, pensar na eternidade. Diga para si mesmo: “Essa ação que vou
praticar aproxima-me de Deus, da minha eternidade bem-aventurada?”.
É bom prever as dificuldades e encará-las, armar-se contra elas. Dificuldade prevista é dificuldade meio vencida.
Enfim, não nos esqueçamos de que não há nada que nos torne intrépidos
como o amor de Deus. Se o amor torna a mãe forte e corajosa, quando se
trata de defender seus filhos, que não fará o amor de Deus, quando se
encontra profundamente enraizado na alma? Não foi ele que fez os
mártires, as virgens, os missionários e santos?
Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey
Fonte: Canção Nova
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