A espiritualidade precisa ser um exercício diário de fé e reconhecimento da presença de Jesus
Cultivar a espiritualidade ainda não faz parte do cotidiano de muitas
pessoas. Pouco se compreende que esse exercício é um pilar determinante
na sustentação da interioridade e de uma qualificada participação na vida
social. Por isso, muitas dinâmicas estão comprometidas. Ilusoriamente,
pensa-se – talvez por forças de secularismos, excesso de racionalizações
ou imediatismos – que a espiritualidade é opcional, mais apropriada
para alguns mais devotos.
Na verdade, a espiritualidade é indispensável para sustentar a vida
de todos em parâmetros qualificados. Assim, um permanente desafio é
estar em sintonia com o que diz o salmista nas Sagradas Escrituras:
“Desde a minha concepção me conduzistes, e no seio maternal me
agasalhastes. Desde quando vim à luz vos fui entregue, desde o ventre de
minha mãe sois o meu Deus”.
A humanidade, mesmo emoldurada por diferentes manifestações
confessionais e religiosas, não prioriza o hábito de cultivar a
espiritualidade. As consequências são o comprometimento da vida, com
equívocos nos critérios que regem discernimentos e escolhas, a
prevalência da mediocridade na emissão de juízos e nas iniciativas que
deveriam corresponder à dignidade própria do ser humano, na sua
inteireza.
A cultura da dimensão espiritual no cotidiano significa reconhecer a
presença de Deus no lugar que Lhe é próprio, conforme ensina o salmista
em oração: “Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,
em vós confio desde a minha juventude. Sois meu apoio desde antes que
eu nascesse, desde o seio maternal, o meu amparo. Vosso louvor
transborda nos meus lábios, cantam eles vossa glória o dia inteiro. Não
me deixeis quando chegar minha velhice, não me falteis quando faltarem
minhas forças. Eu, porém, sempre em vós confiarei, sempre mais
aumentarei vosso louvor”.
O exercício da espiritualidade
O lado espiritual não é apenas uma parte da existência. Trata-se de
alicerce para a vida, cultivado pelo desenvolvimento da competência de
se contemplar, isto é, tornar-se capaz de mergulhar no sentido mais
profundo de cada ser, de cada criatura, superando superficialidades. E a
oração é, por excelência, a experiência do exercício da
espiritualidade. Causa empobrecimento considerar a oração como um recurso de poucos, para momentos passageiros de aflições maiores.
As preces possibilitam o enraizamento de si mesmo na verdade e na
fonte do amor que é Deus. Tertuliano, reconhecido escritor dos primeiros
anos da era cristã, destaca a força da oração ao comentar: “Nos tempos
passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome. Agora, a oração
cristã não faz descer o orvalho sobre as chamas ou fechar a boca de
leões, nem impede o sofrimento. Mas, certamente, vem em auxílio dos que
suportam a dor com paciência,
afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo
abatido, enche de alegria os generosos, acalma tempestades, detém
ladrões, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam e confirma os
que estão de pé”.
A oração possibilita ao humano experimentar o deserto de seu próprio
ser. Leva-o a reconhecer sua condição solitária e pobre, para explicitar
sua dependência de Deus. O lado espiritual de cada pessoa é que lhe
permite assumir e conquistar a humanidade verdadeira e integral. Na
espiritualidade, cultiva-se o silêncio que faz da própria vida um ouvir
determinante, gera-se a competência para o diálogo, que promove a cultura do encontro e quebra, com propriedade, a rigidez da mesquinhez.
O caminho para a solução de muitos problemas
A experiência espiritual qualificada é que nos permite cultivar e
aproveitar os nossos dons, edificando a unidade interior básica, que
permite a inteireza moral e existencial. Quando se compromete essa
unidade, a conduta pessoal sofre com reflexos negativos. E o caminho da
espiritualidade, que possibilita uma condição humana qualificada, não
pode ser trilhado apenas com a própria força, nem mesmo unicamente com a
luz da razão. Trata-se de percurso impulsionado pelo Espírito Santo, que está presente em cada um dos que cultivam a abertura para receber seus dons.
A humanidade carrega um fardo pesado por não compreender a
importância de cultivar a espiritualidade. Por isso, o cidadão
contemporâneo fica moralmente enfraquecido, gerando os descompassos que
degradam o mundo. Assim, o investimento para transformar a realidade
exige de cada um cultivar o lado espiritual. Eis o caminho que é fonte
de soluções para os muitos problemas enfrentados pela humanidade.
Fonte: Canção Nova
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