A verdadeira felicidade está na busca pela santidade
No Evangelho,
vemos retratada a proposta de santidade de Jesus por meio das
“bem-aventuranças”. De fato, é somente em Jesus, por meio do Seu
ensinamento e da Sua vivência, como verdadeiro “homem-novo” recriado
segundo Deus, que podemos entender o que é ser santo diante do Senhor e
dos homens.
Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate,
apresenta cada uma das bem-aventuranças como um caminho de felicidade
para todo o cristão. São oito caminhos que nos indicam que: a verdadeira
felicidade está em buscar a santidade. Vejamos cada um desses caminhos
propostos pelo Papa, inspirado nas bem-aventuranças.
O Desapego
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do céu” (Mt
5,3). A bem-aventurança alerta para a tentação de buscarmos a felicidade
fora de nós mesmos e do nosso relacionamento com Deus. É uma falsa sensação de liberdade que nos é dada pela posse de bens materiais, porém, não consegue nos fazer felizes.
Onde temos buscado a segurança de nossa vida? Verdadeiramente, o que
deixa nosso coração seguro e em paz? É preciso cultivar a pobreza de
coração, colocando a esperança e a segurança de nossa vida em Deus,
nosso único bem e, desse modo, seguir a Cristo, assim como propõe o
Evangelho.
A mansidão
Num mundo povoado de discussões, agressões, violências veladas ou
diretas, o caminho da felicidade, proposto por Jesus, indica outra
direção. “Felizes os mansos, porque possuirão a terra” (Mt 5,5). A
herança da terra, dada por Deus, não é prometida àqueles que exercem
autoridade arrogante ou àqueles que gritam, ou mesmo, àqueles que se
fazem ouvir por meio das armas e da opressão dos fracos.
O caminho do Evangelho pede mansidão.
Como Jesus é manso e humilde de coração, assim deve ser todo cristão,
mesmo ao reagir ao desrespeito e à ironia do outro, mesmo ao
expressar-se ou defender sua opinião. A atitude de mansidão daquele que
respeita a sacralidade do outro é, também, um caminho de felicidade.
A compaixão
Atualmente, as pessoas fazem grandes esforços para escapar do
sofrimento. Passa-se muito tempo buscando conforto, boa vida e luxo. Até
mesmo o sofrimento e a angústia, quando aparecem, devem ser logo
superados e escondidos. Por exemplo, o “luto” por um ente querido que se
foi, caiu em amplo desuso na nossa cultura.
Entretanto, o caminho proposto por Jesus pede que compreendamos bem o
sofrimento e, mais do que isso, pede que sejamos solidários com os que
sofrem. Sabendo “chorar com os que choram”, compartilhando de suas
dificuldades e de suas dores. Saber sentir com o outro, ter compaixão; e
essa atitude de vida conduz à felicidade de, quem sabe um dia, também
ser consolado em suas tribulações.
A justiça
Numa realidade povoada pela corrupção
que, desde a política até as relações sociais mais corriqueiras, nos
permeia, é difícil não ouvir falar de justiça. O caminho do cristão é,
também, o caminho de quem tem “fome e sede de justiça” e não se cansa de
buscar saciar-se.
No entanto, a justiça deve ser experimentada, primeiro na própria
vida, porque “O Senhor é justo em Seus caminhos” e, por isso, “É santo
em toda a obra que Ele faz” (Sl 144,17), como afirma o salmista. Um
caminho de verdadeira felicidade é daquele que busca ser justo naquilo
que realiza. Isto é, dando a cada um aquilo que lhe é devido e
preservando o mais fraco, aquele que mais sofre. Buscar a justiça
deixando de lado os interesses mesquinhos e “os jeitinhos”, no dia a
dia, ou seja, buscar a santidade.
Leia mais:
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A misericórdia
“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt
5,7), afirma a bem-aventurança. Para além da justiça, ao cristão é
proposto o “plus” do amor, ou seja, dar àquele que não fez por merecer e
compreender àquele que errou, porque assim escolheu fazer.
Para além da meritocracia, o cristão, em suas relações particulares, deve ser pautado pela misericórdia, compreendendo
que seu coração (cordis) é, também, miserável e necessitado (miserere).
Aquele que segue a Jesus é chamado a acolher, perdoar e fazer o bem;
isso também é possível àquele que não fez bem a sua parte.
Todos somos uma “multidão de perdoados”, de reconciliados pelo
Senhor, com o Senhor e no Senhor. É desse modo que devemos tratar uns
aos outros. O julgamento e a calúnia, por exemplo, são sinais claros de
quem não escolheu o caminho evangélico da santidade e da felicidade.
Aquele que olha e age com misericórdia sabe que, em seu será colocada
uma medida que ele próprio poderá suportar.
A pureza
A pureza nada mais é do que ter um coração simples no qual a intenção
primeira e primordial é sempre amar. O coração puro é aquele que não
está dividido em si mesmo e que busca uma única coisa: amar a Deus e aos
irmãos. Além disso, não permite que nada fira essa sua opção
fundamental.
A atenção aos outros e a oração sincera a Deus brotam sempre de um
coração puro. Aquele que não consegue direcionar-se interiormente para o
amor e enche-se de outras “riquezas interiores”, não pode ser
verdadeiro, ser santo ou ser feliz. Quem cuida do seu coração para que
esteja sempre presente somente o desejo verdadeiro de amar,
preservando-o da imundície mesquinha de outros desejos, esse é um santo.
A paz
A paz definha quando, do coração, surgem o desejo de destruição e de
calúnia do outro. É assim que se iniciam as discussões, as divisões, as
guerras e toda a espécie de violência. Nos ambientes em que se
privilegia somente o negativo, isto é, espalha-se o negativo e se dá
credibilidade à fofoca e à mentira, nesse ambiente não pode haver paz.
As pessoas pacificadas interiormente, aqueles colocam os “óculos da
bondade” para olhar para as outras pessoas, são automaticamente fonte de
paz por onde passam. Somente quem olha para o mundo e para as pessoas,
buscando ver o bem que lá se encontra, valorizando os outros, esse pode
estar pacificado interiormente.
Essas pessoas conseguem tirar bondade onde aparentemente não há e,
por isso, olham para a vida de forma diferente. Não é fácil construir a
paz. Não basta negar ou esconder-se dos conflitos, é necessário buscar
sempre uma nova proposta de superação, por meio do diálogo, da escuta,
do respeito e da compreensão. Não há receita pronta para isso, mas é “um
caminho que se faz caminhando”. O verdadeiro filho e filha de Deus é
pacificador e, por isso, é santo e feliz.
A autenticidade
Aquele que escolhe buscar a santidade e ser feliz aos moldes de
Jesus,é o mesmo que anda contra a corrente da lógica seguida por grande
parte das pessoas. Então, surgem a incompreensão, a perseguição, a
chacota e ironia, num momento ou noutro essas coisas se apresentarão ao
cristão verdadeiro. Pois, trata-se da comum preocupação das pessoas de,
primeiro condenar, desacreditar e desconsiderar aquele que busca viver
uma vida coerente com os princípios do Evangelho.
Mesmo em meio a essas reações, o cristão é chamado a ser autêntico e,
como discípulo e missionário, anunciar a proposta e a mensagem de
Jesus. Na vida do que busca ser santo, nunca se pode esquecer da cruz
cotidiana e das perseguições inevitáveis que o testemunho acarretará.
Ser santo, neste sentido, é abraçar uma vida condizente com o Evangelho
todos os dias da vida, mesmo que isso nos acarrete problemas e
incompreensões.
A felicidade advém daquela convicção interna que, ninguém, nos pode
tirar. Aquela convicção de estarmos sendo coerentes com o projeto de
Jesus, autor e consumador de nossa fé e razão de nossa esperança.
Procure viver esse caminho
Cada uma das atitudes interiores e exteriores apresentadas nas
bem-aventuranças – o desapego, a mansidão, a compaixão, a justiça, a
misericórdia, a pureza, a paz, a autenticidade (Cf. Mt 5,1-12) –
conduz-nos à nossa integração, à essência mais profunda que restabelece,
em nós, uma relação positiva e amorosa com Deus, com os outros e
conosco mesmos. Seguindo esse caminho, nossa “santidade” será fecunda e
tornar-se-á felicidade para nós e para todos que encontrarmos.
Diácono Josimar Baggio, scj
Fonte: Canção Nova
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