26/11/2018 - Histórias de fé na 2ª maior Romaria do Brasil
A palavra peregrinar vem do latim, peregrinus, que
significa “que viaja ao; que anda por terras distantes”. Na Romaria da
Penha, muitos peregrinam ao longo da noite e madrugada, debaixo do
sereno, no asfalto morno, ao lado de milhares de outras pessoas,
carregando pequenos símbolos materiais: casinhas de papelão, imagens,
terços, bíblias, ao lado de rostos desconhecidos do dia a dia, tendo
como destino final um Santuário aconchegante na Praia da Penha.
Há quem diga também que esses peregrinos caminham por suas próprias
terras distantes, por seus santuários interiores; necessitados de
transformação, de mudança. Clamando pela libertação de antigos
sentimentos, desejando uma reforma íntima, o perdão ou compreensão, que
muitas vezes só a Mãe Santíssima assegura. Os olhares estranhos se
encontram e, entre um verso e outro, um louvor e outro, se saúdam como
velhos amigos.
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?, perguntou ele”. Mt 12, 48.
“Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a praticam" Lc 8, 21.
Somos essa fraternidade universal, somos todos filhos e filhas de Deus, somos todos abençoados pela Mãe da Penha.
“Hoje eu só tenho que agradecer”
“Mãezinha do céu, eu não sei rezar, só sei te dizer, que quero te amar...”,
a música parecia estar sendo entoada para aqueles olhinhos brilhantes
do pequeno menino de um ano de idade, nos braços do tio, vestido de
branco, que balançava as mãozinhas sem saber muito o que acontecia, mas
contagiado pela energia da fé.
Arthur nasceu aos oito meses, pré-maturo, e com um sério problema nos
pulmões. Aline, sua mãe, uma jovem de apenas 22 anos, rogava a Senhora
da Penha pela vida de seu filho. Após participar de algumas missas,
prometeu que se o pequeno melhorasse ela o levaria a Romaria com
roupinha branca, e depositaria a vestimenta na Sala dos Milagres, no
Santuário da Penha. “Foram momentos difíceis depois que soube do seu
problema no pulmão, mas eu pedi a Mãe da Penha e ela me ajudou”, disse a
jovem.
Observando mãe e filho, relembro o Salmo 66 que inspira a gratidão
pelas bênçãos concedidas, “Venham e ouçam, todos vocês que temem a Deus;
vou contar-lhes o que ele fez por mim. A ele clamei com os lábios; com a
língua o exaltei. Deus me ouviu, deu atenção à oração que lhe dirigi.
Louvado seja Deus, que não rejeitou a minha oração nem afastou de mim o
seu amor”. Aline abraça o filho e diz “Hoje, moça, eu só tenho que
agradecer”.
“Em primeiro lugar, pela minha saúde...”
Para se viver com saúde, é preciso mais que só um corpo são. Para se
viver com saúde é preciso mover-se pela fé, é preciso acreditar no amor,
na vida, e na felicidade. E tenho certeza que Zélia, obedece todos
esses termos. Sua alegria contagiava no trajeto da Av. Pedro II, na
Romaria da Penha. Pés descalços, lencinho jogado pro ar, e sorriso
estampado no rosto. Louvava em gratidão pela saúde, e ao longo de 11
anos acompanhando a Romaria, disse sempre manter essa alegria. “É
importante agradecer com alegria. Hoje busco o sonho da casa própria,
mas sempre mantenho a gratidão e a oração pela minha saúde”, e abanava o
lencinho sorrindo.
A felicidade de Zélia é representada pelo bem-estar daqueles que
acreditam que tudo é possível, sejam um bem material, seja a saúde do
corpo, seja a alegria de espírito. Já nos dizia a Madre de Calcutá que
“sempre nos conheçamos sorrindo, pois o sorriso é o começo do amor”.
Zélia ama sua vida, sorri em vitalidade de corpo e alma, espera
provisões materiais, acredita no poder da fé, e nos faz compreender que
saúde é um complexo de bem-estar físico e emocional e é sorrindo pra
vida que ela nos sorri de volta, “A minha alegria é poder agradecer em
primeiro lugar pela minha saúde, pela minha vida, e com um tempo as
outras coisas virão. Quem sabe próximo ano estarei aqui agradecendo por
uma casa própria”, disse gargalhando.
“Todo ano eu venho, eu nunca falhei”
A vida não nos promete sucessos instantâneos. Na maior parte do
tempo, as conquistas exigem de nós atravessarmos caminhos mais íngremes.
A força, a coragem, e a fé, são provas terrenas que nos oferecem
verdadeiros aprendizados e dialogam conosco sobre o a coragem de se
manter a paciência e continuar caminhando.
Maria de Lourdes estava agarrada a uma casinha pequena feita de
isopor e papelão. Celebrava a vitória do lar. “Eu alcancei a graça que
pedi a Santa. Construir minha casa. Era de Taipa e eu construí uma de
tijolo e Ela me ajudou, me deu essa graça, ai eu vim agradecer a ela,
com muito orgulho, o presente que ela me deu”.
Tudo em nossas vidas parte de grande decisões, de grande sonhos, de
metas importantes. Maria plantou no seu coração um sonho e movido pela
incrível energia da fé, foi encorajada por Nossa Senhora da Penha a
iniciar sua peregrinação de paciência, luta e coragem até atingir seu
objetivo. Os milagres e os triunfos são parte de uma mistura de fé,
trabalho e amor. Fé em si, fé nos outros, fé em Deus. Maria de Lourdes,
que sorria timidamente por fora, parecia explodir de amor por dentro.
Relembro essa linda frase de Santo Agostinho, que provavelmente teria
amado conhecer a tímida, porém, corajosa, Maria de Lourdes. Disse ele,
“Enquanto houver vontade de lutar, haverá esperança de vencer”. A fé
dela e a de tantas Marias, é a fé que não falha, é a fé que persevera, é
a fé que não deixa cair. Olhando para o andor da Penha, que seguia a
frente, Maria, a de Lourdes, a da fé inabalável, completa: “Todo ano eu
venho, eu nunca falhei”.
Na Romaria da Penha nós encontramos toda a gente de fé, nós nos
encontramos, nós nos abraçamos, desconhecidos uns dos outros,
desconhecidos até de si mesmos. A paz, que tanto foi clamada neste ano
nos quase 14km de caminhada, é a paz que silencia o egoísmo e coloca em
ação o amor. Como nos disse em sua fala o Arcebispo, Dom Delson, “a paz
que motiva nosso coração é encontrada nas atitudes do Cristo, amando e
se doando como ele fez. A potência do amor de Deus nunca subjuga, ela só
sabe se dá e redimir. A Virgem Maria, Nossa Senhora da Penha, aprendeu
de Jesus essa potência de amor. Devemos ingressar na escola de Maria,
leigos e todo o povo de Deus, para aprender tudo a partir de Jesus, e
aprender a viver com alegria as virtudes do Evangelho”. Hoje podemos sim
clamar, como a gratidão de Aline, a alegria de Zélia e a Fé corajosa de
Maria de Lourdes, “Oh, Senhora da Penha, abrandai as dores, de todos os
dias, de nós pecadores”!
Por: Polyanna Gomes
Assessoria de Imprensa e Comunicação da Arquidiocese da Paraíba
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