O uso exagerado de tecnologia está afetando o comportamento das crianças e adolescentes
O vício tecnológico é um tema que, cada vez mais, tem preocupado pais, educadores, famílias, profissionais da área da saúde
e a sociedade como um todo. É um consenso que smartphones, tablets e
computadores são parte de nossas vidas. Mas, um questionamento
importante é: será que o uso exagerado dessas tecnologias pode estar
favorecendo uma geração de crianças e adolescentes ansiosos? O uso da
tecnologia entre crianças e adolescentes pode ter um impacto diferente
do que aquele feito por adultos?
Na verdade, a maturação do cérebro, em crianças e adolescentes,
acontece até por volta dos 21 anos. Antes disso, áreas como aquela que
realiza o controle de impulsos, ainda não estão plenamente formada. Com
isso, o vício se instala de forma mais rápida e prejudicial. Essas e
outras perdas têm sido observadas nesta geração que, cada vez mais cedo,
acessa a tecnologia.
A angustiante espera de uma mensagem
Os acessos feitos em aplicativos, sites e redes sociais
podem trazer ainda mais angustiados. Uma vez que, estamos a todo
momento aguardando a chegada de notificações de novas mensagens,
curtidas, comentários de admiração daquilo que escrevemos ou mostramos.
É curioso perceber que, o mesmo tipo de dependência causada por drogas
é a dependência tecnológica. Pois, as mesmas áreas cerebrais são
afetadas quando observados exames de imagem. Isso é curioso e
assustador! Basta perceber quão irritado fica um adolescente ou criança
quando fica sem o celular ou sem acesso à internet.
As consequências emocionais passam pela ansiedade, depressão,
fobia social (isto é, a evitação do contato pessoal com outros),
chegando à dependência tecnológica, ou seja, um vício de efetividade
instalado, que tem ligação direta com o que chamamos de transtornos do
impulso.
Precisamos tomar uma clara consciência de mudança de hábitos
Revela-se que, depois de 8 minutos de uso de tecnologia, inicia-se a
liberação de dopamina pelo cérebro. Dopamina é o neurotransmissor
responsável por sensações prazerosas e de gratificação. Isso logo
permite que uma pessoa, em busca de prazer, passe a acessar cada vez
mais.
Explicando de forma bem prática: é o momento em que o vício se
instala, então, é onde precisamos tomar uma clara consciência de mudança
de hábitos. É como se toda a vida de uma pessoa se concentrasse em um
celular, como se sem o celular, não fossem ninguém. Onde ficam as
experiências com a natureza, com os animais, com as outras pessoas “de
verdade”? Cadê as experiências com os livros, com a terra, com tanta
riqueza disposta pelo mundo?
Convívio social
As habilidades sociais requeridas com a experiência real, cara a cara
com outro ser humano são muito maiores do que aquelas exigidas pela
experiência tecnológica. Se não queremos falar com alguém por uma rede
social é muito simples: basta bloquear a pessoa, cancelar a amizade
e parece que tudo se resolve. O problema começa quando o jovem precisa
encarar a pessoa, desse modo, não sabe o que fazer ou simplesmente
explode de raiva por não conseguir lidar com as emoções e toda raiva
advinda daquela decepção.
Se a fase da adolescência é aquela que gera as maiores transformações
em nosso desenvolvimento, destacando-se a comunicação e a socialização,
é nesse campo de transformação que as tecnologias podem dificultar o
enfrentamento real das situações. Ganhar uma comunicação efetiva e
transpor dificuldades cara a cara são habilidades que sempre serão
requeridas.
Precisa-se de mais conexão para uma falsa satisfação
Mais que do que “achismos” e situações sem uma explicação clara,
existem evidências científicas que lotam, cada vez mais, os consultórios
médicos e clínicas de psicologia. São queixas das mais variadas: falta
de atenção; enxaquecas motivadas pela exposição à luz vinda dos
equipamentos; problemas de aprendizagem (incluindo escrita, leitura,
compreensão, dentre outros); irritabilidade; dificuldades em sono;
dificuldade no relacionamento interpessoal com isolamento social; falta
de tolerância e de suportar frustração; uma falsa sensação de controle
sobre os ambientes e, até mesmo, a dificuldade em lidar com as coisas
simples e rotinas cotidianas.
Precisa-se de mais conexão para uma falsa satisfação nunca vinda. As
atividades podem ficar de lado ou, ainda, apenas se consegue estar bem
quando conectados. Dentre tantos outros prejuízos, contamos ainda com a
intensidade da divisão da atenção que estressa a capacidade cognitiva ao
sobrecarregá-la de informações, reduzindo aprendizado e compreensão das
situações. Deixando conhecimentos, de certa forma, rasos sobre os
assuntos, uma vez que, a “aquisição de informação” não necessariamente é
aprendizado. Muitas vezes, temos “volume” de conteúdo, mas sabe-se
pouco o que fazer com tudo aquilo.
Então, a partir deste cenário, o que fazer?
É muito importante, enquanto pais, perguntarem-se: “Por que estou
dando um celular ou tablet a uma criança de 1 ou 2 anos? Esse hábito é
constante? Quais hábitos estamos construindo em nossas famílias a partir
dos meus próprios hábitos?”.
Um dos segredos importantes nisso tudo é adotar um uso coerente das
tecnologias adequadas à cada faixa etária, inserindo atividades ao ar
livre, jogos, atividade física, redução no uso e substituição por outras
tarefas. É válido, também, que seja limitado o tempo de uso dos
recursos tecnológicos e que o equilíbrio entre vida real, vida virtual,
laços afetivos reais e todo este cenário seja incluído.
Se é hora de brincar com jogos físicos, brinque com eles. Se é hora
de esportes, deixe o celular de lado. Se é hora da refeição (e acaba
sendo um grande problema, pois muitos de nós comemos em frente ao
computador, celular ou tv), que seja o horário para comer, para que
possamos prestar atenção no que estamos ingerindo.
Crianças com menos de 2 anos não deveriam ter contato com telas,
porque não possuem a sustentação completa de sua cabeça. Isso pode a
levar a desenvolver problemas posturais sérios e, também, ao fazer
contato com brinquedos, objetivos físicos e interação humana,
desenvolvem habilidades importantes de cognição, coordenação motora fina
dentre outros.
Aos jovens que possuem celular: é importante que possam desligar para
dormir ou, ainda, usar o “modo avião” para que as notificações não
cheguem durante o sono e procurem deixar o celular longe cama.
Em resumo, precisamos adotar novos hábitos não descartando os
benefícios da tecnologia, mas usando-a com qualidade e quantidade
adequadas. Tenhamos a certeza de que a vida é muito mais do que a
interação tecnológica.
Fonte: Canção Nova
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