Daremos um espetáculo diferente, mas transformador
Nosso povo gosta de festas e de se divertir, como os dias passados
nos mostraram o ensaio de Carnaval, ou tudo o que acontecerá neste final
de semana e até a terça-feira. Em muitos lugares, esta é uma ocasião
para espalhar pelas ruas as críticas sociais, inclusive aos políticos
que nós mesmos elegemos e cujos nomes até já escaparam de nossa memória.
Para tantas pessoas, carnaval é tempo para desafogar as mágoas
acumuladas, para “tudo acabar na quarta-feira”. Não pouca gente abusará
de bebidas, drogas, sexo desenfreado. Pode acontecer que aumente a
violência, os crimes e acidentes se multipliquem. Para muitas famílias, é
ocasião para uma agradável viagem, cultivo do relacionamento, descanso
sadio.
Por todo o Brasil multiplicam-se ainda os encontros e retiros
espirituais, nos quais uma porção considerável da população se dedica à
oração, escuta e meditação da Palavra de Deus, formação e um pouco de
diversão, sem os excessos correntes. Seja qual for a opção que fizermos,
é bom pensar nas consequências, a fim de que o último dia de carnaval
não deixe o gosto amargo do pecado, pois o divertimento é legítimo e
importante!
O sadio equilíbrio no uso do tempo indica que deveríamos dividir em três partes o tempo do dia que nos é dado pelo Senhor,
a saber, oito horas para o trabalho, oito horas para o sono e oito
horas para outras atividades. Certa vez, um sábio Diretor Espiritual me
aconselhou dedicar pelo menos a décima parte das vinte e quatro horas do
dia à oração, em suas várias formas, como um dízimo diário a ser
devolvido ao Senhor, para não acumular atividades que esgotem as
capacidades humanas e não correspondam à grande dignidade com que Deus
nos criou.
Certamente existem outras propostas para a organização do tempo, a
serem seguidas de acordo com os valores que norteiam a vida das pessoas.
Homens e mulheres muito santos e equilibrados foram capazes de fazer
muito e com competência, nas respectivas áreas de atividades e
competência, aprendendo e ensinando, ao formar discípulos na arte do bem
viver, a disciplina pessoal, o uso adequado das forças físicas, o
sustento da mente que passa pelos bons pensamentos, boas leituras e bons
ambientes.
Por outro lado, quantas foram as vezes em que nos foi recomendado não
perder tempo, fugir da ociosidade, que é mãe de tantos vícios,
planejar, rever, avaliar, reconhecer com humildade e realismo os erros e
acertos, pedir perdão, recomeçar! São atitudes humanas a serem
fecundadas com a unção de uma vida cristã autêntica, que não cancela,
mas revigora, tudo o que é “de gente”.
Permitamo-nos verificar de forma crítica o que atualmente nos é
oferecido, por exemplo, pelos Meios de Comunicação. Se temos excelentes
jornalistas e analistas da situação social e política, no entretenimento
nosso país vive uma estação fraca de bons humoristas. Não sei se existe
hoje um programa televisivo nesta área que possa ser visto sem que pelo
menos um pouco de vergonha apareça em nosso rosto. Pena é que muitas
vezes as pessoas prefiram ficar “amarelas” de acomodamento ou de
omissão!
E que dizer do atual e deprimente espetáculo de pornografia deslavada
que entra em nossas casas durante este período do ano, com um programa
cujo nome nem merece ser citado por quem deseja cultivar um mínimo de
dignidade. E a participação do público votante nas várias etapas não é
melhor do que vem diretamente do meio de comunicação.
Podemos ampliar o leque, se quisermos fazer um levantamento dos
filmes e novelas disponíveis. Como se sabe que sexo e violência
“vendem”, continua a exploração das várias faixas da população, todas
envolvidas até transbordarem em moda, trejeitos, costumes de vida.
Seríamos nós da Igreja adeptos da censura?
Seríamos nós da Igreja adeptos da censura? Desejaríamos fazer uma
cruzada pelo bem vestir, o bem falar e o bem agir? Interessa-nos uma
camisa de força a ser oferecida aos pais e mães? É claro que este não é o
caminho.
Certa vez, Papa Francisco perguntou com sabedoria: “O problema nos
nossos dias não parece ser tanto a presença invasiva dos pais, mas ao
contrário a sua ausência, o seu afastamento. Por vezes os pais estão tão
concentrados em si mesmos e no próprio trabalho ou então nas próprias
realizações pessoais, que se esquecem até da família. E deixam as
crianças e os jovens sozinhos. Muitas vezes perguntava aos pais se
brincavam com os seus filhos, se tinham a coragem e o amor de perder
tempo com os filhos. E a resposta era feia, na maioria dos casos: ‘Mas,
não posso, porque tenho tanto trabalho’. E o pai estava ausente daquele
filho que crescia, não brincava com ele, não, não perdia tempo com ele…
Gostaria de dizer a todas as comunidades cristãs que devemos estar
mais atentos: a ausência da figura paterna da vida das crianças e dos
jovens causa lacunas e feridas que podem até ser muito graves. Com
efeito os desvios das crianças e dos adolescentes em grande parte podem
estar relacionados com esta falta, com a carência de exemplos e de guias
respeitáveis na sua vida de todos os dias, com a falta de proximidade,
com a carência de amor por parte dos pais.
É mais profundo de quanto pensamos o sentido de orfandade que vivem
tantos jovens. São órfãos na família, não dão aos filhos, com o seu
exemplo acompanhado pelas palavras, aqueles princípios, aqueles valores,
aquelas regras de vida das quais precisam como do pão… É verdade que
deves ser companheiro do teu filho, mas sem esquecer que és o pai! Se te
comportas só como um companheiro igual ao teu filho, isto não será bom
para o jovem… E vemos este problema também na comunidade civil.
Os jovens permanecem órfãos de caminhos seguros para percorrer,
órfãos de mestres nos quais confiar, órfãos de ideais que aqueçam o
coração, órfãos de valores e de esperanças que os amparem diariamente.
Talvez sejam ídolos em abundância mas é-lhes roubado o coração; são
estimulados a sonhar divertimentos e prazeres, mas não lhes é dado
trabalho; são iludidos com o deus dinheiro, mas são-lhes negadas as
verdadeiras riquezas” (Audiência Geral do dia 28 de janeiro de 2015). A
resposta do Papa é uma luz impressionante, para que ninguém se lamente,
como muitos pais e mães o fazem em nossos dias.
Parece um refrão repetido, mas não há outra estrada, senão começar em
casa, de novo, a formar, educar para as escolhas a serem feitas,
ensinar a rezar, amar de verdade. E um caminho simples é o da vivência
da Palavra de Deus, pouco a pouco, sem pressa. Daremos um espetáculo
diferente, quem sabe, silencioso, mas transformador. Comece de novo em
casa!
Fonte: Canção Nova
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