O Círio de Nazaré nos reforça o convite para a festa da vida verdadeira
Vivemos mais uma vez o Círio de Nazaré, com o mar de gente que se
estendeu sobre nossas ruas e praças. Mais uma vez ressoou por nossa
terra uma canção que tenta dizer o que vivemos:
“Eu sou de lá, onde o Brasil verdeja a alma e o rio é mar. Eu sou de
lá! Terra morena que eu amo tanto, meu Pará. Eu sou de lá, onde as
Marias são Marias pelo céu, e as Nazarés são germinadas pela fé, que irá
gravada em cada filho que nascer. Eu sou de lá! Se me permites, já te
digo quem sou eu: filha de tribos, índia, negra, luz e breu, marajoara,
sou cabloca, assim sou eu. Eu sou de lá, onde o Menino Deus se apressa
pra chegar, dois meses antes já nasceu, fica por lá, tomando chuva, se
sujando de açaí.
Eu sou de lá, terra onde o outubro se desdobra sem ter fim, onde um
só dia vale a vida que eu vivi, domingo santo que não posso descrever.
Pois há de ser mistério agora e sempre, nenhuma explicação sabe
explicar! É muito mais que ver um mar de gente, nas ruas de Belém a
festejar! É fato que a palavra não alcança, não cabe perguntar o que ele
é! O Círio é o coração do paraense, é coisa que não sei dizer… Deixa
pra lá! Terá que vir pra ver com a alma o que o olhar não pode ver. Terá
que ter simplicidade pra chorar sem entender! Quem sabe assim verá que a
corda entrelaça todos nós, sem diferenças, costurados num só nó, amarra
feita pelas mãos da Mãe de Deus. Estranho, eu sei, juntar o santo e o
pecador num mesmo Céu puro e profano, dor e riso, livre e réu.
Seja bem vindo ao Círio de Nazaré, pois há de ser mistério agora e
sempre, nenhuma explicação sabe explicar, é muito mais que ver um mar de
gente nas ruas de Belém a festejar É fato que a palavra não alcança,
não cabe perguntar o que ele é. O Círio é o coração do paraense, é coisa
que não sei dizer, pois há de ser mistério agora e sempre, nenhuma
explicação sabe explicar. É muito mais que ver um mar de gente, nas ruas
de Belém
a festejar. É fato que a palavra não alcança, não cabe perguntar o que ele é. O Círio é o coração do paraense, é coisa que não sei dizer… Deixa pra lá!” (Letra de Padre Fábio de Melo, interpretada por Fafá de Belém, gravação com os direitos doados à Arquidiocese de Belém)
a festejar. É fato que a palavra não alcança, não cabe perguntar o que ele é. O Círio é o coração do paraense, é coisa que não sei dizer… Deixa pra lá!” (Letra de Padre Fábio de Melo, interpretada por Fafá de Belém, gravação com os direitos doados à Arquidiocese de Belém)
O fenômeno
“Juntar num mesmo Céu puro e profano, dor e riso, livre e réu”. De
fato, nenhuma explicação sabe explicar o que é. Um fenômeno religioso
católico e mariano inigualável no mundo, que atrai misteriosamente
multidões e pode expressar o chamado de Deus, que quer acolher no seu
desígnio de salvação a todos os povos. De fato, o Senhor quer dizer, com
a força de sua Palavra e a ação da Igreja, que todos são chamados!
“Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o
homem Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos” (1 Tm
2,3-5). Jesus expressa o convite e a consequente responsabilidade
através da parábola dos convidados para uma festa de casamento (Mt
22,1-14). O Rei que casa o seu filho mandou seus emissários e uma e mais
vezes avisarem: “Vinde para a festa… A festa de casamento está pronta,
mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide às encruzilhadas
dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. Os
servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e
bons” (Mt 22,4.8-10).
Conversão
Na Bíblia, para anunciar os bens da salvação, com frequência se usa a
imagem de um banquete (Cf. Is 25,6-10). Até nisso nossa festa tem algo
semelhante, pois é dia da família, no “almoço do Círio”, preparado e
participado com esmero, acolhendo parentes e amigos. E festa é coisa
séria! Deixa marcas profundas no coração, convida para o ano seguinte,
atrai outras pessoas!
No entanto, a parábola contada por Jesus acrescenta um detalhe: é
preciso ter a veste própria. Tratando-se de reino de Deus, a veste é um
nome para a conversão. Na linguagem bíblica, mudar de roupa quer dizer
mudar o estilo de vida! (Cf. Rm 13,14; Gl 3,37; Ef 4,20-24). É
necessário corresponder à generosidade do Rei que chama para a festa e
também levar a sério as exigências do Reino de Deus. Lições do Círio!
A festa foi preparada!
Desde o mês de agosto, as peregrinações realizadas em mais de sem mil
famílias espalharam a mensagem do Círio, olhando para Maria, “Estrela
da Evangelização”. E a Imagem peregrina visitou mais de quatrocentos
lugares diferentes, com pregação da Palavra de Deus e oração.
Percorremos paróquias, repartições públicas, escolas e universidades e
presídios, para indicar, junto com a Virgem de Nazaré, aquele que é
Caminho, Verdade e Vida.
No dia do Círio, rostos molhados de suor, o sorriso, o aperto de mão,
a vitória da meta alcançada ao final de tanto esforço. Raças, situações
sociais, diferentes idades e mentalidades, todos são acolhidos.
Trata-se de trazer para o dia a dia da vida cristã o mesmo empenho. Quem
dera este mar de gente acolhesse o convite para ser fermento de uma
humanidade reconciliada e pacificada! A solidariedade tantas vez testemunhada pode ensinar muito e deve traduzir-se em gestos fraternos que se multipliquem durante o ano!
humanidade reconciliada e pacificada! A solidariedade tantas vez testemunhada pode ensinar muito e deve traduzir-se em gestos fraternos que se multipliquem durante o ano!
Ainda há lugar
Uma preciosa experiência feita pelos Bispos no Círio é a acolhida e a
bênção, com a aspersão da água benta, num relacionamento maravilhoso,
feito de olhares agradecidos, sorriso, aperto de mão. Nós aprendemos a
valorizar tal encontro, para muitas pessoas o único durante o ano com um
Bispo. Não podemos jogar fora instantes tão preciosos! Após as grandes
procissões do final de semana do Círio, a Igreja de Belém se dedica a
duas semanas de pregação da Palavra de Deus, celebrações da Santa Missa,
momentos fortes de oração, presença de Bispos de várias partes do
Brasil, além das sucessivas procissões, que desdobram a mesma mensagem
do Círio.
No entanto, trata-se para nós da colheita do Círio, especialmente
através do Sacramento da Reconciliação, celebrado por pessoas que
acorrem à Basílica de Nazaré em longas e piedosas filas. É que desejamos
lavar nossas vestes no Sangue do Cordeiro (Ap 7,14) na graça da
reconciliação. Ainda há lugar, pois o Círio de Nazaré volta sempre e
deixa marcas indeléveis! Nele, ressoa de novo o convite para a festa da
vida verdadeira, promovida pelo Pai do Céu.
Fonte: Canção Nova
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