Para falar de composição podemos partir do livro dos Salmos. O que é o livro do Salmos? De acordo com o CIC (e aqui vou tomar vários trechos), os parágrafos 2586 e 2597 nos diz:
“Os salmos nutrem e exprimem a oração do povo de Deus enquanto assembleia”. “As expressões multiformes da oração dos salmos tomam forma, ao mesmo tempo, na liturgia do templo e no coração do homem.”
“Os salmos são o espelho das maravilhas de Deus na história do seu povo e das situações humanas vividas pelo salmista. Um salmo pode refletir um acontecimento do passado, mas reveste-se de tal sobriedade que pode com verdade ser rezado pelos homens de qualquer condição e de todos os tempos.”
“Há traços constantes e comuns a todos os salmos: a simplicidade e a espontaneidade da oração; o desejar Deus em pessoa, através e com tudo o que é bom na sua criação; a situação desconfortável do crente que, no seu amor de preferência pelo Senhor, tem de se confrontar com uma multidão de inimigos e de tentações; a certeza do seu amor e a entrega à sua vontade, enquanto espera o que o Deus fiel fará.”
Conhecer-se em Deus e nutrir uma intimidade com Ele são passos essenciais para uma boa composição
Quis trazer essas citações do CIC, pois as características e motivações são as mesmas (ou deveriam ser) que nos levam a compor uma canção. Com isso estou comparando as canções atuais com suas várias motivações aos Salmos?
Não é esse o objetivo, porém, nossas canções continuam falando do amor de Deus para com seu povo, continuam falando, muitas vezes, com simples melodias e harmonias da história do povo, dos seus anseios, sonhos, tristezas, alegrias, lutas, busca por uma vida mais em Deus. A composição passa pelas situações humanas, pelo amor (de preferência, pelo Senhor) e até nas situações difíceis que nos levam para Deus. Passa pela voz e vontade de Deus que fala com seu povo; passa pela história do povo, pelos costumes; passa pelo desejo de santidade do povo etc.
O livro dos Salmos e a composição
O livro do Salmos nos ensina a compor e suas características podem ser um caminho a seguir. São várias as motivações que nos levam a compor uma canção, porém, para compô-las, antes é preciso que o compositor tenha intimidade com Deus, para ouvir de d’Ele a canção a ser composta. “Nossa! Aqui espiritualizou total!”: você pode estar pensando assim! Mas vamos seguir…
Ninguém mais do que Deus sabe do que os seus filhos, o seu povo precisam. E, nós, músicos católicos, não cantamos somente para uma satisfação pessoal. Cantamos por missão, cantamos por causa de um chamado, cantamos para evangelizar, isto é, para que as pessoas se abram a Deus que já habita seu interior.
Aqui se conectam os dois últimos textos que escrevi. Por causa da evangelização, para que o povo saiba que temos um Deus próximo que nos ama, é que escrevo letras e canções que contenham essa experiência do povo, porém, não só deles. É algo que passa também por mim, então, fala das minhas experiências.
O autor dos Salmos é um homem de intimidade com Deus e, por isso, ele vai louvando, agradecendo, pedindo, suplicando, humilhando-se, arrependendo-se etc., falando do que está dentro do seu coração, da realidade do seu povo, das dores e alegrias.
Compôr exige responsabilidade
A canção fala de mim, fala do que está no meu interior, fala do que está ao meu redor e move o coração, a mente, as sensações de quem a escuta. Uma letra com melodia, harmonia e ritmo é algo muito poderoso. Causa grande influencia na vida das pessoas.
Aqui entra a grande responsabilidade do compositor (sobretudo o compositor católico), pois precisa ser:
- Homem de virtudes, do bem, de Deus. Não basta ser só do bem, mas precisa lutar para ser virtuoso e lutar para ser de Deus ( princípios, busca de santidade);
- Precisa ter conhecimento da fé católica, da sua Igreja e amá-la;
- Submeter as suas composição a quem tem maior conhecimento teológico, doutrinal. Às vezes, a música é linda, porém, possui graves erros teológicos, erros de doutrina. Causa em quem escuta uma compreensão nebulosa da fé católica;
- Purificar seus objetivos.
Inspiração correta
Quero dizer com isso que: muitos, hoje, compõem a partir da inspiração de ver sua música dando certo (uma falsa motivação). Mas o que é dar certo? Ela sendo cantada em todos os lugares, ouvida em todas as plataformas, sendo interpretada por aquele(a) cantor(ora) famoso(a)?
Vamos aos Salmos novamente: alguns falam da profunda angústia que o autor estava sentindo naquele momento, e aquela angústia tornou-se sua oração. Têm músicas que nunca sairão do quarto, da oração, do papel… Nunca salvarão pessoas, nunca serão interpretadas por nenhum cantor famoso. Mas teve um papel importantíssimo para uma pessoa. Aquele que a fez, o Compositor…
Pois, aquela canção, ou até aquela letra que ainda nem tem melodia, foi composta por palavras mais sinceras que o autor colocou com a oração. E foi agradável a Deus porque só nasceu para isso. Uma oração sincera de um coração para o coração de Deus. Então, cumpriu seu papel e agora pode ser esquecida dentro de uma gaveta, para que, daqui a alguns anos, seja encontrada e atualize o momento do encontro com o Senhor.
Dica do monsenhor Jonas
Uma vez, em uma conversa com monsenhor Jonas Abib, eu disse a ele que tinha muitas composições, e perguntei o que eu faria com elas. Ele me disse para “mostre-as para alguém e se permita ser questionado, deixe que elas sejam analisadas. Pois, de 20 músicas que nós fazemos, uma ou duas serão para o povo, muitas outras não. Por isso, apresente essas músicas e deixe que Deus mesmo, por meio da boca das pessoas, diga para você qual é a melhor ou melhores para aquele tempo”. Aqui ele falava de uma pessoa próxima, que fosse amiga e que me ajudasse a analisar essas canções, não do grande público.
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Porém, muitas vezes, não fazemos isso pelo medo da frustração de não ver o trabalho feito com tanto carinho ser aprovado por esse ou por aquele. Isso é o que menos importa. Acredite!
Falei acima que a letra precisa falar da Igreja, do amor que tenho por ela, do povo e do amor que tenho a Jesus. Bem, para isso, alimentar-se de boas informações e formações ajuda muito.
Formação e estudo
O fio condutor (como dizia Walmir Alencar) para uma boa composição vem através da inspiração. Muitas vezes, a partir dos pontos citados anteriormente, “trata-se” a composição, escolhendo os melhores verbos, adjetivos, substantivos. Verificando a necessidade da rima ou o excesso dela, confrontando o conhecimento que você foi adquirindo ao longo dos dias, nas leituras, meditações da Palavra, vida dos santos, história da Igreja, oração pessoal etc.
Após isso, apresente-a a um músico (se você não for) para que ela tome uma forma ainda mais adequada para o tempo, o momento, segundo a inspiração e purificado das falsas motivações, logo após, apresente-a um teólogo da Igreja, a um padre ou diácono,a um leigo também, porém, com bom conhecimento para eliminar quaisquer erros, por fim, se essa canção deve ser gravada, encontre um bom arranjador que consiga compreender o que está dentro de você e traduzir no arranjo da canção ou encontre um cantor que consiga expressar tudo o que você imagina para ela, ou ainda, aquele cantor que Deus mesmo lhe inspirou.
E agora é colocar a “mão na massa” da próxima inspiração. Porque meu dever é plantar, outros colherão, mas quem faz crescer é o Senhor.
Fonte: Canção Nova
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