Neste dia 25 de julho, da Festa de São Tiago, o Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI) através de um dos seus fundadores, o perito em relíquias sagradas Fábio Tucci Farah, apresentou uma iconografia revisitada do Apóstolo. A reconstrução artística facial foi encorajada por dom Julián Barrio Barrio, arcebispo de Santiago de Compostela, onde estão depositadas as relíquias sagradas de São Tiago Maior, ligadas às origens apostólicas, que continuam atraindo multidões de devotos.
O especialista em relíquias da Arquidiocese de São Paulo, Fábio Tucci Farah, em audiência com Dom Odilo Scherer, arcebispo local, já apresentou uma pesquisa que vai orientar a reconstrução artística do rosto de São Paulo, patrono da cidade. A ideia segue mais um projeto idealizado por Farah, um dos fundadores do Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI), que, pela ciência forense e mesmo sem acesso aos crânios dos santos, já recriou o retrato artístico mais fidedigno de Santa Joana d’Arc e, agora, está apresentando em primeira mão a reconstrução facial artística de São Tiago Zebedeu, um dos apóstolos mais próximos de Jesus e testemunha de Sua Transfiguração.
O Rosto da Europa
O projeto nasceu há 2 anos e foi intitulado “O Rosto da Europa”, em referência à afirmação do autor alemão Goethe - a Europa se fez a caminho de Santiago – e à tradição por onde o Apóstolo teria levado a Boa Nova do Reino. Tanto que, no século IX, a descoberta das relíquias de São Tiago na Espanha começou a arrastar multidões ao seu sepulcro. Naquela época, como lembra Farah – também curador adjunto da Regalis Lipsanotheca, em Ourém/PA, um dos maiores acervos de relíquias fora do Vaticano – “se aproximar das relíquias de um Apóstolo era estar em sua presença”:
“Com o passar dos séculos, as relíquias se perderam dentro da catedral até a redescoberta, em fevereiro de 1879. Em uma audiência privada com dom Julián Barrio Barrio, arcebispo da cidade, manifestei o desejo de reconstruir o rosto do Apóstolo. Seus restos mortais, incluindo o crânio, estão ali. Porém, o relicário está lacrado e há uma interdição papal impedindo sua abertura: a bula Deus Omnipotens, de Leão XIII. Diante disso, surgiu a ideia de fazer a recriação artística do rosto do Apóstolo, usando os mesmos princípios empregados no trabalho de Santa Joana d’Arc.”
O pesquisador brasileiro em audiência com Dom Julián Barrio Barrio, arcebispo de Santiago de Compostela
Um projeto de ponte-área Brasil-Espanha
O rosto de São Tiago foi recriado pela artista espanhola Girleyne Costa, e a pesquisa, uma etapa fundamental do projeto, contou com a parceria de Farah e Mariana de Assis Viana Mansur, “que já percorreu oito vezes o Caminho de Santiago e conhece bem a iconografia do Apóstolo”, explica o especialista brasileiro. Farah comenta que “não seria suficiente retratar um pescador galileu do século I”, com suas características étnico-raciais. Era preciso ir além, buscando traços em referências já consagradas e em iconografias pouco conhecidas.
“A ideia não seria apresentar o rosto de um pescador galileu do século I e dizer: ‘eis aí São Tiago’. Mas apresentar o rosto de um provável pescador galileu do século I que fizesse as pessoas se lembrarem do Apóstolo: o irmão de São João, retrato nas catacumbas nos primeiros séculos, o primo de Jesus Cristo, o apóstolo que saúda os peregrinos em sua imagem mais célebre – a do Pórtico da Glória. Um homem que chegou ao ‘fim do mundo’ para pregar o Evangelho. Com o dossiê histórico, a Girleyne iniciou os esboços. Acompanhei o processo do primeiro esboço ao retrato final; essa etapa durou aproximadamente seis meses.”
A importância do culto religioso
A imagem nunca esteve tão valorizada como nos últimos tempos. O próprio João Paulo II, em carta apostólica sobre a veneração das imagens (Duodecimum Saeculum de 1987), enfatizava a importância da representação de Jesus, de Nossa Senhora, dos Mártires e dos Santos para “favorecer a oração e a devoção dos fiéis”. E conhecer um rosto fidedigno à realidade de personagens históricos, como o de São Tiago Maior, finaliza Farah, é um instrumento eficaz para reavivar e fortalecer a fé dos devotos:
“O rosto realista de um santo se prestaria apenas à satisfação da curiosidade de nossa época? Para muitos devotos, a apresentação do rosto mais fidedigno de um santo a partir da reconstrução forense é acompanhada pelo fortalecimento da fé, pelo interesse renovado em imitar sua vida e seus costumes. E o mais importante, ajuda a erguer os olhos em direção ao Reino dos Céus. Ao contemplar a face humana de São Tiago, os devotos de hoje podem alcançar a Boa Nova que o Apóstolo carregou aos ‘confins da terra’. E são capazes de descortinar o que os aguarda no fim da peregrinação por este mundo.”
Em frente à Catedral de Santiago de Compostela, Fábio Tucci Farah com Mariana Mansur (à direita), coordenadores do projeto “O Rosto da Europa”.
Fonte: Vatican News
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